quinta-feira, 12 de abril de 2007

SMS 205. Não resisto a contar

12 Abril 2007

Metáfora do tempo que passa, não resisto a contar o que o Washington Post fez em Janeiro mas que só agora corre pelo mundo. O grande diário norte-americano lançou a seguinte questão: Passaria desapercebido um dos maiores violinistas do mundo tocando em plena hora de ponta no metropolitano de Washington? Vai daí, convenceu Joshua Bell, sem dúvida um dos prodigiosos e grandes violinistas da actualidade, a pegar no seu Stradivaruis avaliado em três milhões de dólares, para, trajado de vaqueiro, camisola de algodão e boné de basebol, tocar à entrada do metro, na L’Enfant Plaza, no centro político de Washington, solicitando moedas a quem passasse. Ninguém o reconheceu a executar Bach, e durante 43 minutos, das 1.070 pessoas que deram de caras com o célebre violinista, apenas 27 deixaram cair uma moedinhas de esmola, apenas 7 pararam para o ouvir mais de um minuto e no final da façanha, o que estava no fundo do boné, somava exactamente 32 dólares…

Que lição a tirar daqui? A de que a excelência, neste mundo que passa, apenas é reconhecida quando há fama e que apenas há fama quando a excelência é artificialmente colunável no seu lugar e como tal imposta. Em Faro, por exemplo, Joshua Bell, com o seu Sradivarius e as suas magistrais execuções de Bach, ali à beira da Doca, nem sete euros recolheria. Mas a Lili Caneças ou outra qualquer cara de capa, mesmo que, para além da fama sem excelência, pouca coisa saiba fazer ou alguma coisa tenha a dizer de útil e de válido, senhores e senhoras, na Rua de Santo António veria cair no seu boné, em apenas um quarto de hora que fosse, um montante 330 vezes superior ao que o próprio Joshua Bell recolheu no Metro de Washington.

Naturalmente que a metáfora chega à política, chegou à política: no Algarve, dão-se valentes esmolas à fama enquanto a excelência passa desapercebida. E tal como na Arte, mal vai a Política quando os Famosos que tudo fazem para terem mais fama sem excelência, substituem os Excelentes ali na Doca, a pedir esmola para a excelência de que o Algarve tanto carece.

Carlos Albino

Flagrante reserva: Sobre o que, juntando ao que sabia, fiquei a saber da questão de Vilamoura, de Jordan, da Praza, da Inframoura e da Câmara de Loulé, de me calarei até ir a Córdova e, no regresso se for possível, tirar a limpo algumas coisas com o BCP.

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