quinta-feira, 19 de abril de 2007

SMS 206. Um pouco mais de humanidade…

19 Abril 2007

Por estes dias, andei a espreitar. Não levem a mal, mas andei a espreitar e a meter o nariz onde não sou chamado, onde, por assim dizer, está a vida privada ou até mesmo a intimidade – a vida privada dos imigrantes e a intimidade dos imigrantes, tanto quanto possível sem que estes dessem por mim. E observei situações inacreditáveis. Em centros de cidades, em casas degradadas, alugadas por montantes exorbitantes aqui a ucranianos, ali a romenos, mais além a moldavos, há quartos minúsculos com cinco e seis camas, cozinham à porta, amontoam-se sem condições humanas, sem qualquer qualidade de vida. Pelos campos em sítios esconsos ou já à berma de estradas, pior ainda: em perímetros sem urbanização possível, onde até há pouco estavam alfarrobeiras e amendoeiras, por aí se vêem contentores em cima uns dos outros, filas de contentores, verdadeiras aldeias de contentores onde, num ambiente concentracionário e de maus prenúncios, igualmente se amontoam ucranianos, romenos, moldavos, por vezes com africanos ou então apenas estes porque a amálgama desumana é a mãe da segregação e do apartheid. Clandestinos? Legais? Não vem para o caso. O que vem para ocaso é que esta situação tem que ser, deve ser escrutinada, embora dela não se fale – há interesses pelo meio, uns rasteiros por parte de gente que quer dinheirinho sejam quais forem os meios e métodos, outros mais elevados porque decorrem do perigoso jogo de investidores sem rosto ou alguns com ele mas igualmente perversos. Pois, por estes dias, por aí andei por ruas e ruas, por campos e campos, por amontoados e pardieiros escondidos. Não gostei do que vi e estou a interrogar-me se no Algarve há uma política de imigração, de acolhimento, de integração e de todas aquelas variáveis que devem desembocar num pouco de mais humanidade. Pelo que vi, não há, ou se há, a política parece que cruza os braços face a uma situação que só por milagre não vai resvalar para uma situação potencialmente explosiva.

Carlos Albino

Flagrante pergunta: E se, por acaso, mais ano menos ano, a avaliar as dívidas presentes, algum gigantesco aldeamento turístico redundar num gigantesco caso de Tróia, como será?

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