É claro que o general Mateus da Silva ao afirmar que o Algarve precisa de «um Alberto João Jardim» não estava a dizer que o Algarve precisa de Alberto João Jardim. Nada disso. Precisa de um, não precisa de. E é verdade – o Alberto João Jardim não faz aqui nenhuma falta, mas um faz. O que o Alberto João Jardim é, todos sabemos – homem inconsequente e que desafia a civilidade por todos os poros, provocador consoante as conveniências e figura do mais recuado provincianismo, o Alberto João Jardim está para a Maria da Fonte assim como o Remexido estava para o Ali Babá e seus 40 ladrões. Mas quando se fala da necessidade de um Alberto João Jardim o que se pretende dizer é que o Algarve precisa de líder, de projecto de afirmação, de ideia que reconduza à identidade, que foi exactamente o que um Alberto João Jardim conseguiu dar à Madeira, porquanto quem por certo se lhe seguirá, já não poderá fazer recuar a Madeira para o estado de estagnação e de descaracterização em que se encontrava. E é por esta ordem de ideias que poderemos afirmar que até os Açores tiveram até agora não um mas dois Albertos – Mota Amaral e Carlos César. O Algarve não teve nenhum.
Alguns homens, em certo momento, até tiveram condições para liderar o Algarve, mas faltou-lhes ideia, projecto, discurso e sapatada nas mordomias. Assim aconteceu com Luís Filipe Madeira que tem discursado muito mas feito pouco ou mesmo nada (será quando muito um líder provinciano em que a manha oculta ideias) e em certa medida assim aconteceu com José Mendes Bota que é um CD regravado. A Júlio Carrapato faltou aquele acessório do brilhantismo e sobraram-lhe as navalhadas nas costas, algumas tão discretas quanto fatais. A José Vitorino faltou sobretudo a Enciclopédia Luso-Brasileira, da letra A até à letra Z. A Cabrita Neto faltou perceber que a política não é uma empresa e, quanto a figuras, poucas mais saltam dos registos destes 32 anos de democracia não havendo portanto azo para pedir desculpas para eventuais omissões, até porque Macário Correia ainda não deixou de ser apenas o presidente da Câmara de Tavira. Bem, vem aí a geração mais jovem de políticos que ainda não provaram nem tiveram tempo, muito embora alguns não deixem de ser meros afilhados de vícios antigos e quanto à quota de mulheres, obviamente que não chegam lá apenas por via de convocação de conferências de imprensa e comunicados provincianos para jornais que tomam igualmente por provincianos. Por exemplo para Miguel Freitas a prova de ter ou não ter chama, apenas agora começa, aguardemos.
Assim, as declarações do general Mateus da Silva, algarvio confesso e espírito inquieto com o que se passa na Terra, são uma verdadeira e inesperada pedrada no charco. A política algarvia está reduzida às coisinhas de indivíduos contra individuozinhos das coisas, está confinada à disputa de lugares para listas mais ou menos futuras de deputados, empregos políticos e comissões partidárias e está bloqueada por gente que tem da democracia uma ideia de proveito próprio. O Algarve precisa de um, de dois, de três Albertos que não se transformem no Alberto João Jardim. Mas que precisa pelo menos de um, lá isso precisa. A palavra do general foi um tiro certeiro e não foi um tiro curvo.
Carlos Albino
Nota: As ilustrações escolhidas para este apontamento reproduzem os, até agora, mais credíveis símbolos do Algarve. Em cima, o brasão de armas, e, em baixo, a bandeira, conforme nos descreve o reconhecido perito em hieráldica, Simas Alves de Azevedo. Coisas a ter em conta pelo Governo Civil e pela Junta Metropolitana.
Sem comentários:
Enviar um comentário