20 Abril 2006
É difícil encontrar região do país pior que o Algarve, em matéria de estacionamento, de ruído e de asseio. O que verifico em Loulé, não encontro em Bragança nem em Castelo Branco e muito menos na Feira; o que se passa em Faro, é difícil em Viseu; o que há em Portimão, seguramente não se vê em Aveiro; as bandas de Albufeira não se comparam às bandas da Figueira da Foz, andar por Silves não se compara a andar por Évora; e o que se avista em Lagos nem por um canudo se enxerga em Braga. Não é que as terras da comparação sejam paraísos, mas não são tão infernos onde o civismo arde e pena. E como eu gostaria que o Algarve fosse uma Terra de Civismo!
Qualquer um, no Algarve, estaciona o carro onde quer desde que descubra uma nesga, qualquer um faz o barulho que lhe apetece e qualquer um atira para o chão o que muito bem entende. Estaciona-se em cima de passadeiras de peões, de calçadas acabadas de fazer, em segunda e terceira fila, onde quer que seja, para não se andar a pé uns metros até à cama ou até à sala; motas e motoretas por aí andam de escape aberto num festival de ruído e em afirmações de poder pelo estrondo do escape; e, quanto à noção de asseio público, nem vale a pena descrever o espectáculo de imundície com cães ou sem cães porque a imundície é sempre de raça apurada. E o curioso é que pouca gente protesta abertamente, que raros são os municípios que levantam o dedo contra este estado de coisas, e que raramente se nota a autoridade a pôr ordem nisto e a zelar pela aplicação da lei, cada um à sua maneira assim contribuindo para a deterioração do ambiente público, da paz urbana e do bem-estar nas ruas onde todos e cada um de nós passamos, afinal, grande parte da vida ou mesmo o melhor da vida.
Por princípio, sou contra a repressão, como sou, também por princípio, a favor de campanhas de instrução pública (sim, digo instrução, não tenho medo da palavra), a favor de campanhas de sensibilização, de acções que previnam tudo aquilo que a repressão não cura nem pode curar – a repressão, apenas em último caso e como último recurso, quando apenas a autoridade pode evitar o confronto directo ou a impunidade continuada e desafiadora dos que fingem não saber viver em sociedade ou, pior, querem mesmo provocar os mais sensíveis alicerces da vida em sociedade.
E como em tudo, há terras piores e terras melhores, e mesmo dentro das melhores há zonas de evidente decoro imposto e outras zonas completamente ao deus-dará – não vou, por agora, citar casos concretos, para que não se diga que torço pelos de Aljezur contra os de Alcoutim ou que enxerto carrapatos em Ferragudo esquecendo-me das pulgas dizimadas em Moncarapacho. Não vou por aí. Mas em todas as terras, os municípios podem e devem fazer mais do que fazem através de posturas e de acções de sensibilização; em todas as terras, as forças com funções de polícia podem e devem actuar mais do que actuam, por vezes abrindo mais os olhos que convenientemente fecham; e todos nós, os cidadãos para quem a palavra civismo foi inventada, podemos e devemos reivindicar, em todas as terras, o bom jogo dos deveres e dos direitos. Mesmo que os deveres sejam difusos, não é sr. Cabrita?
Carlos Albino
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