16 Março 2006
Sei que há pareceres que viabilizam, mas, mal de uma sociedade democrática e de um estado de direito que seja ao mesmo tempo estado de transparência, se os pareceres apenas tivessem que ser jurídicos e só jurídicos, sem mais, sem algo mais que tem a ver com a ética política. Refiro-me à questão das incompatibilidades dos titulares de cargos políticos, designadamente aos que exercem estes cargos a tempo inteiro. Mais concretamente me refiro a casos em que presidentes de junta de freguesia acumulam funções de assessoria ou de adjuntos de presidentes de Câmara. O PS fez isto, agora o PSD faz o mesmo, uns imitam os outros e é apenas por astuta veneração pelo estado de direito que se recorre ao parecer jurídico, mas perdeu-se o pudor voltando-se as costas ao estado de transparência.
É inadmissível, do ponto de vista ético, que um presidente de junta seja ao mesmo tempo adjunto do presidente de câmara, podendo influir em matérias para as quais convirá separação clara e inequívoca de funções, quer de âmbito financeiro, quer do foro urbanístico com toda a carga de venalidade que neste Algarve se conhece. Aliás, os casos de duvidosa compatibilidade estiveram e estão aliados a casos de duvidosas parcerias, interesses e influências. O parecer jurídico pode encontrar a escapatória de que a lei é omissa ou que não proíbe, logo sendo permitido... é o habitual mas detestável corolário.
Nos casos em que o da junta é um quadro, um reputado quadro e insofismável especialista, vá lá, ainda se compreenderá que o presidente da câmara não queira perder o préstimo do quadro e o contributo do especialista. Mas quando não se trata de um quadro, muito menos de um especialista e, quando muito, de se trata de conhecido artista? Aí, desculpem-me, não compreendo como é que o da junta a tempo inteiro possa ser adjunto da câmara a tempo inteiro igualmente.
Se a moda pega, é o desvirtuamento das juntas de freguesia e é a suspeição instalada nas câmaras municipais. A coisa é triste e quem pode sair mal do filme não será tanto o da junta mas, desnecessariamente, o da câmara. Nem tudo o que é permitido, é tolerável. A deformação dos juristas não é boa conselheira...
Carlos Albino
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