5 Maio 2005
Como habitualmente, nas manhãs de sábado, tento passar o melhor possível a pente fino as coisas do Algarve. Para tanto, nada melhor há do que jogar mãos à imprensa disponível – sento-me numa pequena e discreta esplanada de café e meia-hora basta para solitariamente ficar ciente de algumas coisas boas e outras francamente más para a região, passando os olhos por esses sete títulos que me aguardam na tabacaria. Numa das últimas vezes, tive companhia. Um influente homem pede para me fazer companhia, concedo e ele senta-se. Ao ver sete jornais algarvios, para além das três publicações da imprensa diária e semanal que selecciono também por hábito e simpatia, o homem não disfarçou um enorme espanto. «Tantos jornais que você lê?» - perguntou-me, sorvendo meio copo de cerveja (mais caro que os 0,90 € do Postal do Algarve) enquanto eu ia mexendo o meu cafezinho. «E você não lê nenhum jornal?», tentei saber, ao que o influente homem replicou com o argumento de que os jornais são caros – «E então logo essa meia-dúzia!» – e falou, falou, dizendo que «Jornais só à borla!» e que «Mandam-me dois pelo correio que nem abro, a mulher é que devora aquilo, para além do jornal com que vem da missa», pediu outra cerveja também mais cara que os 0,75 € do Barlavento), seguiu-se uma terceira (ao preço do 1 € da Voz de Loulé), continuou a falar do político A, da carta anónima, do vereador B e do último boato, continuando a falar na quarta cerveja (no custo do 1 € do Algarve Região) até rematar numa quinta mais cara que 0,75 € da Região Sul. E nisto, o influente homem puxou – imagine-se – um valente charuto consumindo na primeira fumaça mais que os 60 cêntimos de O Louletano e numa segunda e espaventosa fumarola enquanto fechava um olho como que num simulacro de zarolho, fez subir para os ares mais do que os 75 cêntimos do Jornal do Algarve… E não é que ele continuava a falar, a falar e a falar? É claro que, na duração dessa cena, não consegui ler nada mas fiquei mais convicto de como o povo tem razão ao observar que em terra de cegos, o zarolho é rei. O Algarve está cheio destes reis: falam muito, não lêem nada.
Carlos Albino
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