quinta-feira, 24 de julho de 2003

SMS 11 - Jardim das tabuletas

24 Julho 2003

Tudo serve. É uma tira de papelão (com mais garatujas que letras) atado a um semáforo do cruzamento de estradas, é um pedaço de tábua (que fora antes tampo de uma mesa) atado a uma árvore com arames, é um metro de plástico (desses, do lixo) armado em faixa... Tudo serve. E até há quem vá directo às paredes, aí escrevendo, às esconsas da noite, o que de dia surpreendentemente todos têm que ler. As tabuletas, desde a «çardinhada» no tal restaurante até à «noite expectacular» no dito bar com a «selebrada artista acurdeonista» enchem estradas e ruas a cada esquina. A somar a isto, há coisas mais elaboradas, saídas de tipografias, com ar de bem feitinho e que se colam labregamente umas sobre as outras em tudo o que seja sítio. Para cúmulo, ainda há as agências funerárias que por aí andam a pôr fotocópias pelas paredes com os mortos e até missas de sétimo dia, não tanto por atenção à dignidade dos mortos mas para reforçar o negócio dos enterros por entre a forte competição em matéria de funerais. Tudo isto se faz sem regras, cada um faz o que lhe apetece, numa espécie de civilização do feio, do sujo, do abjecto e da indignidade. Tenho andado por muitos lados, nunca vi igual. Nem no México, nem em Marrocos, nem no Irão, muito menos em Malta. E que tentem fazer isso em Espanha, em França, na Alemanha ou na Itália... Por todo o lado civilizado, quem queira fazer propaganda tem lugares certos: os jornais e as rádios locais ou regionais, onde a publicidade tem regras. Câmaras Municipais e Juntas de Freguesias têm culpa, enormissima culpa por este Algarve estar convertido num sórdido jardim de tabuletas. Há muita postura que não se aplica não pelo receio de perder votos mas pelo favor ao compadre. É um regabofe. Quando terminará? Será bom que termine.

Carlos Albino

Sem comentários: