quinta-feira, 23 de junho de 2016

SMS 672. Educação ou temperamento?

23 junho 2016

Se queremos estar em paz connosco próprios, devemos evitar discutir como se define o comportamento de um povo. Esse é um assunto inquietante porque nunca se chega à conclusão sobre se se trata de um modo de agir fruto de um temperamento, isto é, o resultado de uma formação orgânica, e pensamos nos genes, no território, na direcção do vento, na incidência do sol, e até na água que bebemos, ou, se pelo contrário, as atitudes cívicas dependem de factores culturais, como sejam a História e a Educação. Para nosso sossego, preferimos sempre por optar pela segunda via. A crença em que a Escola, as Instituições e a Política podem alterar para melhor os comportamentos humanos, fazem-nos acreditar que não só a melhoria é possível, como o ritmo da mudança pode ser acelerado se nos empenharmos nesse sentido. É o que parece ter sido tentado ao longo das últimas décadas. Mas o sucesso, que é algum, ainda é muito limitado. O povo não é uma abstracção, é o somatório de actos individuais, e quando descemos aí, percebemos que o povo, o nosso povo, no sentido mais lato, aquele que engloba as classes altas e as ditas baixas, mantêm os antigas estigmas de lentidão e falta de iniciativa absolutamente assustadores.

Os exemplos colhidos do quotidiano são gritantes. Basta sair de casa e confrontarmo-nos com os serviços públicos. Um exemplo? A Estrada 125 está em obras, a zona de intervenção não é extensa, os nós em causa são simples de ultrapassar. Então porque se formam filas de carros, com pessoas ao volante que não sabem para onde ir, nem com quem falar? Experimentem a querer informar-se junto de um dos muitos agentes da GNR que estão parados junto ás obras. Eles acabam de chegar de terras estranhas ou longínquas, e por isso não conhecem o assunto e apenas dizem para seguir as setas. Ou então dizem que não têm alternativa e rolam o braço para que se acelere, e se avance em frente. Ou então não conhecem o piso e estão ali deslocados de outros serviços. Se perguntamos porque não existe um croqui, uma indicação mais precisa, o agente limita-se a dizer – “Vá ao posto e faça queixa”. E continuam a fazer com o braço aquilo que a seta faz - “Vá em frente”. E em frente, vamos dar ao lugar oposto para onde queremos ir.

Muitos parabéns a esta ajuda. Estamos no centro do centro de uma região turística de excelência, consideramos. Este mesmo desmazelo justifica que o poder central nos ignore, e que as petrolíferas queiram abrir poços no Algarve. Eles sabem com o que contam – com pessoas que estendem o braço para dizerem de olhos fechados pela força do sol – “Olhe, vá em frente”. Até José Hermano Saraiva considerava que o problema deste povo consistia na coexistência de élites corruptas e populações passivas. Se passarem pela 125, e mergulharem no caos do trânsito, em vez da queixa junto do comando da GNR, sugiro que chamem uns quantos agentes da polícia de Espanha ou do Reino Unido. Talvez eles não se limitem a levantar o braço como autómatos. Talvez se tenham informado dos circuitos alternativos e sintam que é bom cumprir por iniciativa própria. Quanto nos falta para chegarmos lá?

Carlos Albino
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Flagrante reforço: Na caça à multa e com partes gagas. Claro que qualquer polícia inglês, espanhol ou francês sabe que não pode mandar parar sem motivo aparente ou fundamentado. 

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