Falou-se muito e fala-se ainda bastante dos custos de uma Região Algarve. Não se quantificaram, sabendo-se apenas os custos de um municipalismo segundo um modelo implantado para inviabilizar a regionalização e justificado como alternativa, custos esses acrescidos por alguma descentralização e outra tanta desconcentração. Tudo junto, acabámos por assistir, nas últimas décadas, a um aumento da burocracia, da discrepância de decisões e até de critérios, e sobretudo ao cavar de um enorme fosso entre a administração e os administrados, intransponível para a generalidade dos cidadão e das empresas à exceção de meia dúzia dos habituais beneficiários de mordomias. Cada município acabou por funcionar como que uma “região”, cada qual fazendo o que quer e lhe apetece, conjugando-se somente no diagnóstico dos problemas mas dificilmente acordando soluções de partilha, de interesse comum ou recíproco. Mesmo nas áreas que seriam de mais fácil entendimento, como são as do recreio e da atividade cultural, ou andam de candeia às avessas, ou repetem uns o que outros fazem, ou entram numa competição estéril em que cada um esvazia a ação do outro.
Por aí houve um
momento em que, com a corda na garganta, se tentou reduzir os custos gerais
do País e em cada “região”, com a extinção ou fusão de freguesias, processo que
não chegou aos municípios, não porque o poder central não tivesse essa vontade
e propósito, mas apenas pelo travão dos “custos políticos” já que os interesses
eram cruzados como são. Não fora tal travão e os 16 municípios do Algarve
tinham ficado pela metade, extintos ou fundidos. Embora isto nunca tenha sido
dito claramente ou à boca cheia, a ideia passou pelos corredores do
centralismo. Por isso mesmo e para isso mesmo, o mesmo poder central despachou,
à maneira romana, uns cônsules para preparar o terreno e, com toda a coerência
de cônsules, olhando para as câmaras por cima do ombro.
Resultado disto,
é uma região economicamente apática, sem a indústria que lhe seria possível
designadamente a agro-alimentar, sem agricultura que vá além dos frutos
pendentes, sem pescas a sério que são as das mais-valias, com um comércio que
ou é tradicional e já desadequado aos tempos ou que, nas mãos de cadeias, de
regional pouco ou nada tem. E é assim que as terras, sejam pequenas cidades,
vilas grandes ou localidades com luzes acesas conforme a ocupação do
dormitório, se fecham provincianamente, muito embora as reduzidas elites locais
se passeiem alegremente pelo mundo, enfim, gozando a vida com a legitimidade
que atribuem a si mesmas. Nos intervalos de tal alegria, na época baixa, uns
saltos a Lisboa, a Sevilha ou a Huelva para os mais poupados, sempre evitam a
consciência dos custos deste não-Algarve.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante Prémio de Jornalismo: Como tem sido hábito sempre que há motivo para prémio, o júri reuniu-se no Dia de Reis, e decidiu por unanimidade atribuir o Prémio SMS de Jornalismo à fundadora e diretora do jornal online Sul-Informação, Elisabete Rodrigues, pelo seu trabalho de indeclinável e persistente qualidade, pela sua coragem de resistir numa espécie de selva, e pelo seu culto por uma palavra fácil de pronunciar mas difícil de preservar: deontologia.
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