Não estranhem. Embora toda a gente tenha uma ideia, muitos saibam mas poucos se recordem, ocorre-nos evocar Lutgarda Guimarães de Caires, mais pela sua marcante figura de humanista e filantropa do que pela sua poesia que teve a sua época e moda. Lutgarda é filha de Vila Real de Santo António, homenagens oficiais e iniciativas tendentes a colocá-la na memória dos vivos, embora não muitas, não têm faltado. Em
Vem a propósito. Lutgarda
foi a fundadora e impulsionadora do Natal das Crianças dos Hospitais, que, como
toda a gente sabe, hoje se chama apenas Natal dos Hospitais, alargado que foi a
todas as idades, uma festa que ano após anos atingiu uma dimensão jamais
esperada. Popularizada pela rádio e depois pela televisão, a festa hoje perdeu
de vista o nome da criadora da iniciativa, mas o sonho, a vontade e a obra
pertencem a Lutgarda.
Mas a filantropia e o
humanismo de Lutgarda não se restringiu à sua atenção pelas crianças
doentes. Convidada em 1911, pelo então ministro da Justiça Diogo Leote para um estudo
sobre a situação dos presos, principalmente das mulheres, Lutgarda conseguiu a
abolição da máscara penitenciária e do regime de silêncio, instrumentos que
colocavam as prisões portuguesas nos tempos medievais. O regime de silêncio,
aliás, era um castigo tipicamente medieval que, no seguimento dos nossos
brandos costumes e das conveniências da justiça politizada, vigoraria até 25 de
Abril de 1974…
Neste Natal de 2015,
aqui fazemos modesta homenagem a Lutgarda, pelo seu Natal das Crianças dos
Hospitais. E como a 30 de março de 2016, passam 80 anos sobre o dia da morte de
Lutgarda, cabe a Vila Real de Santo António homenagear quem tudo fez para que as
prisões portuguesas saíssem da barbárie, sobretudo com a abolição da máscara
penitenciária que fazia de seres humanos, alguns arbitrariamente condenados,
bichos numerados na jaula, sem direito ao rosto e cujos nomes eram substituídos
por números. Lutgarda, se fosses viva, oferecia-te neste Natal uma flor de
esteva da serra algarvia, ainda que em botão, deve haver algum. Mereces.
Carlos Albino
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Flagrantes eventos: Neste Natal, aí pelo Algarve, alguns eventos que, sem tirar nem pôr, fazem do Natal o mesmo que Carnaval, Dia das Bruxas, Animação de Verão, Palhaçadas… Tudo igual, até o Pai Natal com ar de pateta no meio de ursos de Entrudo. Parece que o Presépio perdeu as eleições e que o menino Jesus, a Mãe e o Pai adotivo José nem sequer passaram à oposição – entraram na clandestinidade. “São os eventos!” – dirá o burro e até a vaca.
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