quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

SMS 645. Correspondência França-Portugal

17 dezembro 2015

De Paris, amigo meu, catedrático de referência, abre o diálogo que se segue:

- Como vão as coisas?
- Por aqui as coisas mudam, as loisas não… E por aí?
- Por aqui depois do suspense das eleições as coisas estão menos mal. Mas se analisamos porque é que tanta gente vota FN, dá uma "fotografia" pouco agradável de 30% dos Franceses.
- Também por aqui, há “fotografias” pouco agradáveis.
- Como diria a minha mãe, os Franceses no fundo tinham aderido em grande parte a Pétain, depois nos anos 50 ao horrível Poujade, essa espécie de ideologia pequeno-burguesa restrita, reacionária, mesquinha, mais o racismo que está enraizado numa parte da população...
- Por aqui, mudando Pétain e Poujade para outros nomes, passa-se o mesmo, só que atrás de um biombo, com 50% dos Portugueses atrás e outros 50% à frente. Como explicas isso aí
- A falta de pedagogia - desde a escola primária às altas  instâncias dos governantes - destas última décadas tem feito resto. A falta de grandes intelectuais que lutam pela liberdade da palavra e do pensamento e pelo humanismo. Agora são falsos intelectuais cuja maioria vem da direita e que são convidados pelos media. Quando os bons intelectuais, inteligentes, sensatos, que analisam com mais profundidade falam, o povo acha que são chatos. Mais um jornalismo francês que prefere criticar seja o que for.
- Por aqui, tal e qual. Sobretudo isso, a falta de pedagogia desde a escola primária às altas instâncias dos governantes. Dá para conversa longa.
- Falaremos disso quando nos voltarmos a ver. Bom, continuemos a “luta”. Como tu dirias, os políticos defendem a cidadania até chegarem ao poder. Parto dia 21, vou a Zürich à ópera ver "Il viaggi a Reims" do Rossini, que vi há trinta anos quando o Abbado re-descobriru a partitura e o Ronconi  encenou na Scala com uma distribuição maravilhosa. Veremos desta vez. Depois vou para o Lago dos Quatro Cantões, como nestes últimos anos, ler, andar a pé ao longo do lago e nas montanhas à volta, ir de barco de vez em quando a Lucerna, talvez escrever - porque não? - em todo o caso, mudar de  ares e ver o lago e os barcos que o atravessam.
- Que sorte! Aqui temos que nos contentar com alguma coisa que pingue na província, depois passear rente ao mar e imaginar um caíque vindo do horizonte. Imaginar apenas, porque já não há um único caíque nem para amostra, e que se os suíços descobrem ainda põem um a navegar no Lago dos Quatro Cantões...

Carlos Albino
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Flagrantes votos: Bom Natal para todos os que tolerantemente lêem estes apontamentos e, muito em especial, para os fazem este Jornal do Algarve, o nosso The Times, como diria José Barão e João Manjua Leal não se cansa de repetir.

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