Desde 4 de outubro,
todo o País assistiu a uma enorme aula de ciência política e de direito
constitucional como nunca aconteceu. Todos aprendemos muito, independentemente
das opiniões de cada um e das convicções mais ou menos generalizadas. Sobretudo
aprendemos que escolher representantes para o parlamento não pode nem deve ser
um ato de ligeireza. Do conjunto dos deputados e da sua diversidade, depende a
condução do destino do País e a afirmação do poder na sua raiz central.
Aprendemos que o voto tem consequências mas que também produz surpresas,
aprendemos que há regras que acima dos interesses de cada um movimentam as
instituições, aprendemos que o sufrágio não é uma aritmética de caras
simpáticas ou antipáticas, que não é ou não deve ser mero efeito de
encantamento por vozes canoras ou repulsa de vozes fanhosas. Aprendemos que o
voto deve ser exercido em função de ideias, de um projeto, de um programa. Aprendemos
também muito quanto ao valor da participação e sobre a absoluta inutilidade da
fuga, da abstenção e do desligamento da decisão coletiva na sua hora certa e
livre. Aprendemos igualmente que o exercício do poder não é coisa da
propriedade privada seja de quem for e que seja quem for que exerça o poder não
pode fugir ao escrutínio dos seus atos, das suas omissões e das suas palavras.
É esta aprendizagem que traça a fronteira entre uma democracia e uma ditadura,
entre o que resulta da livre escolha de opções e da imposição de ordens dadas
como indiscutíveis. E se continuarmos a aprender, também descobriremos que
aquilo que vamos aprendendo como válido a nível nacional e das instituições do
País, é igualmente válido a nível local e das instituições a que bem chamamos
autárquicas.
Também os partidos,
como coletivos organizados de eleitores, todos aprenderam muito ou deviam ter
aprendido. De pouco já lhes vale a excessiva confiança no marketing político e
o apagamento das ideias em benefício da propaganda por todos os meios e
expedientes. Isto teve o seu tempo – o marketing político e a propaganda como
fins em si, cansaram a sociedade que já se apercebeu de ser a primeira a ser
enganada mas sempre a última a pagar decisivamente os erros, designadamente os
erros evitáveis. Mais do que nunca, a sociedade aprendeu a questionar o que
pode ou não ser erro.
Julgo que a sociedade
algarvia, particularmente castigada por uma colonização partidária que faz
dos eleitores algarvios uma espécie de imobiliária política do compra-e-vende
através dos offshores do poder, também aprendeu, embora não tenha voz para o
dizer até porque muitos dos que deviam ser eleitores ativos, não só caíram de
pára-quedas, como aqui estão como poderiam estar na Mauritânia. Mas é também uma fase que vai passar.
Carlos Albino
Carlos Albino
_________________________
Flagrante pensamento: Tomando, no Calcinha, um café com um amigo, saltou-me esta: “A manha, manha do manhoso, é o rascunho do déspota na sua versão original”. E isto porque há muita honestidade invocada por aí, que não passa de manha.
Sem comentários:
Enviar um comentário