quinta-feira, 19 de novembro de 2015

SMS 641. Paris e as mesquitas do Algarve

19 novembro 2015

Vai para seis anos, aqui, na SMS 294 (O respeito pelas religiões, março,2009), observámos como, por exemplo nas agendas municipais, se discriminavam as religiões beneficiando uma só, em matéria de locais e horários de cultos. Ou todas, ou nenhuma, defendemos, independentemente da respetiva grandeza ou da proximidade da crença de cada um. Entre as diversas religiões praticadas no Algarve, nessa altura, contava-se já, a islâmica, ou muçulmana, como queiram. Verifiquei, entretanto que, algumas câmaras começaram a contemplar o princípio da não exclusão, colocando nas suas agendas, endereços, horários e até responsáveis de cultos. Julgava eu que as religiões assim publicamente consideradas, se inseriam mais nas sociedades locais que as acolhem, não discriminando ninguém. Mas em diversas circunstâncias, comprovei que assim não acontecia. Telefones disponibilizados geralmente não respondem e, quando num caso ou outro se chegou à fala com interlocutor, as respostas ficaram aquém do benefício da inserção. Claro que não me arrependo da sugestão de há seis anos, na esperança de que as atitudes mudem.

Em Portugal, há 52 mesquitas, três das quais no Algarve (Portimão, Albufeira e Armação de Pêra), a que se somam dois designados lugares ou salas de culto islâmico (Faro e Quarteira). Portanto, uma religião já com alguma expressão, designadamente da parte de imigrantes, muitos deles há muito radicados na região, acolhidos e, além de bastantes serem lusófonos, com provas dadas em matéria de participação cívica. Derivas à parte, o islão é uma religião pacífica e os seus seguidores, se seguem, pugnam pela paz, pela concórdia e pela harmonia social.

Por isto mesmo, esperava-se já da parte dos responsáveis de mesquitas e lugares de culto islâmico, uma posição pedagógica, firme e probatória de bons propósitos, não só antes mas sobretudo a partir dos trágicos acontecimentos de Paris. O silêncio não é a resposta, e as palavras para dentro ou para uso interno, não movem moinhos, num momento em que aqueles acontecimentos são suscetíveis de provocar um amplo receio público e aproveitamentos por certo injustos e descabidos face a uma comunidade que se instalou pacificamente e para fins pacíficos. Sheikhs, bhais e imãs já deviam ter dito alguma palavra que suscitasse serenidade a uma sociedade que, independentemente de crenças, se une esmagadoramente na crença da Paz. Já deviam ter dado um sinal agregador ou, até mesmo, apaziguador por bons motivos. Sinal este que mais vale tarde que nunca.

 Carlos Albino
_________________________
Flagrantes meios-mandatos: Por aí, muito balanço a meio-mandato autárquico, quando tantas vezes basta um dia, uma hora ou até mesmo um minuto, para se estragar tudo e irreversivelmente… Não seria melhor optar-se pelo balanço constante?

Sem comentários: