quinta-feira, 23 de julho de 2015

SMS 624. Deixemos a poeira pousar  

23 julho 2015

Com certeza, esta é a época em que há muito atropelo em festas, festivais, feiras, reconstituições dadas como históricas, encontros disto e daquilo, pretextos desde o chouriço ao marisco, desde tudo a qualquer coisa, por aí fora, umas coisas “nacionais”, outras já “internacionais”, quase não deixando um dia livre no calendário estival. Não há mal grave nesse atropelo. Ainda há uns poucos anos, contava-se pelos dedos de uma só mão o que poderia ser descrito como animação, recreio ou divertimento. Agora é um mapa de “eventos” quase uns sobre os outros, ou, mal acaba um, outro começa mesmo ao lado, seguindo-se outro logo ali, ainda estão a voar pelas valetas, em pilhas nos balcões dos cafés ou nos vidros dos automóveis estacionados há oito dias, os folhetos do que acabou de há três dias. E nisto, mal da terra que não tenha “eventos” que, por natureza, deviam ser eventuais mas até o significado da palavra se alterou. Não mal grave nesse atropelo de que muitos se queixam e com que outros tantos se animam. Algum dia, se descobrirá que tem que haver um esforço de coordenação mínima para o que deva ser considerado com “regional”. Algum dia se reconhecerá que a Animação (letra grande) do Algarve deve ter um planeamento ainda que esboçado, um fio orientador, claro que nada impositivo ou castrador das eventuais criatividades e orçamentos locais, mas Animação conjugada. Para que, pousada a poeira, a qualidade impere e para que tal qualidade não fique apenas nos braços das agências disto e daquilo que, por natureza, programam à distância os “eventos” cá de dentro.

Esse esforço de coordenação ou de conjugação, algum dia, terá de acontecer para que o atropelo não dê em caos e para uma animação em caos não há orçamento que a suporte. Não me perguntem qual é ou deva ser a “instituição” a quem compete dar o pontapé de saída, ou se há mais que uma mas duas, três que entre si tenham dar o exemplo desse mesmo esforço. E, além disso, devam elaborar um dicionário mínimo em que animação turística signifique isso mesmo e não outra coisa, tal como animação cultural deva significar tudo o que queiram mas com cultura e não sem ela.

Algum dia, isso acontecerá. Deixemos a poeira pousar. A natureza não dá saltos, e a natureza humana, então a algarvia, além disso, não é propriamente um “evento”.

Carlos Albino
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Flagrante pedido aos motards e aos combatentes: Calma! Isto não é uma guerra, seja esta de invasores sem invadidos, ou de combatentes sem grandes combates à vista. Calma!

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