quinta-feira, 2 de julho de 2015

SMS 621. Maria Barroso


2 julho 2015

Partir não é notícia, abalar não justifica comentário, mas sentir a falta dói. Todos sabemos que Maria Barroso nasceu aqui, sabemos como ao longo destes anos passou como uma nuvem sobre fronteiras despejando uma chuva de afetos. Foi um exemplo vivo da concretização daquela advertência de Malebranche: “É preciso tender para a perfeição, sem a pretender”. A raras pessoas e em muito poucas situações tenho confidenciado que essa é a minha frase de cabeceira desde os 15 anos. E quando confidencio, olho para a cara da pessoa, tentando perceber o efeito em tudo o que os olhos possam apanhar como que num flash. Maria Barroso, quando, já lá vão uns bons e muitos anos, lhe fiz a confidência, abriu os olhos para o seu maior tamanho, apertou os lábios, e após uma forte contração do rosto tal como se faz quando se tenta separar a verdade da mentira, fez um daqueles sorrisos que não têm lugar preciso na cara, porque pertencem a todo o rosto naquele momento em que o rosto é a alma. E é verdade. Maria Barroso tendeu para a perfeição sem a pretender.

Ela não nasceu apenas no Algarve – viveu o Algarve. Queria a excelência no Algarve, nunca negou uma ajuda para que essa excelência varresse o provincianismo, o egoísmo, a invocação da cultura em vão, o jogo trafulha que nasce da ignorância como os cardos. Ao Algarve que lhe batesse à porta, dava sempre ajuda discreta mas eficaz e, para grandes causas, dava o nome.

Sobre Maria Barroso, qualquer notícia será sempre incompleta, qualquer comentário pecará sempre por defeito, mas a sua falta tende para a dor de quem a sente. Possivelmente a perfeição é abalar e partir sem isso se pretender. Obrigado, Maria Barroso.

Carlos Albino
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Flagrante observação: Tem o céu tanta estrela, porque é que há-de retirar as poucas que a Terra tem?

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