quinta-feira, 16 de julho de 2015

SMS 623. Esperança ou abuso 

16 julho 2015

Deus o ouça, David Santos. Há um ano (2014), pouco antes do “programa operacional” começar a valer, disse desejar que o Algarve viesse a ser em 2020 «uma região com mais emprego, mais economia, onde a sazonalidade não seja tão intensa e onde as pessoas tenham mais qualidade de vida». Foram palavras contidas, que geraram dúvidas mas em sintonia com a generalidade dos Algarvios, sejam estes de raiz ou adventícios. Numa região com a mais elevada taxa de desemprego do País, com muito pouca economia além da economia que foi destruída, e da “outra” que não tem sede na região, com uma sazonalidade próxima do antigo Estatuto do Indígena das colónias, e com uma qualidade de vida só para inglês ver ao longo da 125, as palavras de David Santos, N.º 1 da CCDR e de facto “governador civil”, muito próximo já de “ministro da República”, coincidiram com as palavras que quem queira o bem da Região, poderia dizer. Não estávamos perto de eleições, nem próximos de pontais ou de pontinhas, e as palavras de esperança são como chuva bem-vinda para flores a secar.

Um ano depois, neste 2015, David Santos naturalmente que se afirma satisfeito com os 85 por cento de execução do dito “programa operacional” e quando outra sigla para muitos enigmática – CRESC 2020 - começa a andar de ouvido em ouvido, volta a dizer : “gostaria que, quando terminasse este quadro comunitário 2014-2020, o Algarve fosse a região do país com menor taxa de desemprego”. David Santos usou o verbo “gostar” e não “querer”. Disse “gostaria” e não “quero”. Também gostaríamos e, já agora, quereríamos. Deus o ouça.

De resto, tudo o que mais disse agora – os 140 milhões, o FEDER, etc… - corresponde a sermão que, mais ou menos, se ouve há muito tempo, mudando as siglas que podem ou devem ser mudadas, desde o tempo do abate dos barcos, às piscinas, jipes e moradias para a renovação da agricultura, para não se falar de outros incentivos às “empresas” com todas as histórias da intermediação burocrática e dos gabinetes de interesses difusos, com um pé na responsabilidade púbica e outro pé nos jogos privados.

É claro que a voz de David Santos é, de alguma forma, a voz do governo em altifalante regional. É a voz do poder político executivo. Ele dirige um serviço periférico da administração direta do Estado, serviço esse integrado na Presidência do Conselho de Ministros e tutelado conjuntamente pelos Ministros do Ambiente, do Ordenamento do Território e Energia, e pelo Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional. As áreas de tal serviço, ancorado em Faro, abrangem extensas áreas: ordenamento do território, vigilância e controlo, desenvolvimento regional, ambiente, administração local, gestão administrativa e financeira, comunicação e sistemas de informação.

A dois meses de eleições, oxalá que Deus ouça as palavras de David Santos para 2020, e não as considere apenas um abuso de comissão.

Carlos Albino
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Flagrante arrepio: A colocação da Comunicação Social (apoios, subsídios, o futuro…) exclusivamente nas mãos de um órgão governamental, numa região que pouca e quase nenhuma comunicação social tem.

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