Ninguém
espera ou exigirá que, na premência
do calendário para as legislativas, cada partido abra o seu jogo ao público em
geral, porque é já uma tradição (má tradição…) que o jogo irreversivelmente
caia do céu como facto consumado, ainda que as listas estejam longe de ser
dádivas divinas. Com a abstenção, o desinteresse, se não até o achincalhamento
do “sistema”, a isso se responde lamentavelmente. E dentro das fronteiras de
cada partido acontece o mesmo, com os militantes a afastarem-se emagrecendo os
ficheiros reais, a distanciarem-se com a participação a ganhar diabetes tipo
II, e a colocarem-se por auto-defesa numa posição de reserva, ou seja atrás do
biombo.
Para a
eleição de deputados que aí se
aproxima, pela primeira vez de forma incontornável, o assunto, além da escolha
de nomes, é também o da escolha de homens e mulheres para os lugares chamados
“elegíveis”. E se, quanto a homens não há muito por onde escolher pelos padrões
da excelência que a representatividade aconselha e exige, quanto a mulheres, o
assunto é mais difícil não porque as mulheres não existam e até bastantes a
corresponderem aos padrões, mas porque os partidos pouco ou nada fizeram para
as colocarem no cenário da afirmação pública, como actrizes políticas de
confiança. Uma ou outra foi aparecendo mas como figuras secundárias, peças de
decoração e ajudas contidas para a movimentação do palco.
Pela
doutrina dos factos, no caso do
Algarve, o PCP na sua coligação tradicional, o Bloco e cada um cada um dos
novos partidos que pela primeira vez se apresentam, a escolha de mulheres e
homens está facilitada: podem escolher seja quem for, mesmo desconhecidos e
desconhecidas, que a chancela é suficiente e não altera resultados expectáveis.
Já nos casos do PSD e do PS, o assunto é diferente: seja quem for, homem ou
mulher que entre para os lugares “elegíveis”, esse ou essa fica desde a
primeira hora da escolha, submetida ao escrutínio do lume lento do boletim
pré-eleitoral… E será um risco dizer ou pensar em voz alta que o assunto é pior
para o PS que para o PSD – este, em função do seu eleitorado, até pode falhar e
ninguém dará por isso, aquele não. Se falhar ou cometer erros de casting,
todos, de fora e de dentro, lhe cairão em cima.
Quanto às
mulheres elegíveis, algumas
cometeram já erros insanáveis, sobretudo as que afirmaram os seus nomes quase
exclusivamente por via do chamado aparelhismo. Ostracizadas, penalizadas no
curriculum pelas convulsões internas, ou não tendo beneficiado do exercício
funcional e visível da política (o carisma é coisa que tem prazo, como nos
iogurtes…), algumas andaram todos estes anos de braços cruzados, sem discurso,
sem trabalho no terreno e perdendo até excelentes oportunidades de dizerem ao
eleitorado – “Aqui estou, penso assim, tenho uma ideia, um projeto, um plano, e
digo isto com a minha voz, com a minha sensibilidade, para que me reconheçam,
independentemente do timbre, da escala e do tom”. Assim sendo, o PS, mais do
que o PSD, quanto a mulheres (cremos que escassos dois lugares) o PS apenas tem
uma escapatória: escolher alguém pela competência comprovada, e mais alguém
pela efetiva juventude sobreposta a reconhecida habilitação que justifique a
aposta, e não pela adolescência tardia que é o espelho da senilidade precoce
que afeta muita carreira tida como madura.
Quanto aos
homens elegíveis, um caso mais
bicudo para o PSD do que para o PS, fica para a semana, a SMS 618, longa vida
já.
Carlos Albino
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Flagrante abundância: Tertúlias… Só que tertúlia não é nem deve ser uma mini-conferência. Com mini-conferências viveremos acima das nossas possibilidades.
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