quinta-feira, 18 de junho de 2015

SMS 619. Apetece bater-lhes com o martelo no joelho...


16 junho 2015


Está o Algarve cheio de estátuas de Moisés, acredite-se ou não. Nos municípios, nas freguesias, nas direções, delegações e entidades regionais, nas travessas e becos camarários, bem vistas as coisas, descobre-se sempre por aí um Moisés (masculino/feminino), nem que seja fechado num armário e não tão raramente quanto pareça, um Moisés sentado à secretária a telefonar ou a despachar. Uma estátua tão ou mais perfeita como a que Miguel Ângelo esculpiu para o túmulo do papa Júlio II. Quem já tentou contar os Moisés do Algarve, ficou sem saber se serão 42 ou mesmo 67, mas figuras dessas são bastantes, e, além disso, genialmente esculpidas. A perfeição é tal que, cada estátua, para não se descompor, permanece imóvel. Não respondem a nada, não recebem ninguém, e quando fingem receber não é isso que fazem mas apenas dispensar a sua beleza estática a quem desfila e reverencia. E, por um elevado sentido de sobrevivência, cada Moisés admite com muita humildade que apenas é obra-prima no território onde está, território esse que, aliás, trata como um túmulo. O Moisés do túmulo ao lado, é outro Moisés, e cada um que trate apenas de si. Ainda não há, portanto, um Moisés de todo o Algarve, mas sim dezenas de tais obras-primas espalhadas no Algarve retalhado, e que assim é um verdadeiro museu vivo com aspeto de cemitério de estátuas. Cada um dos nossos estimadíssimos Moisés julga-se detentor das tábuas da lei, mas, à cautela, não o diz em voz alta, nem sequer para cada tribo nómada que os segue, tribos tais que, até meio do mandato, cumprem metade dos mandamentos, a partir da metade apenas o quinto (não matarás), e, três meses antes do final, nem este. Ou seja, tais tribos servem para queimar as sarças no terreno por onde cada Moisés, à falta de palavra e de ideia para alguma palavra, irá passar silencioso mas sorrindo majestaticamente, pedregulho vulgar em qualquer pedreira mas obra-prima na galeria virtual em que qualquer poder, seja qual for o patamar, se converteu. E caso se dirija a qualquer destes Moisés, a pergunta: “Você não fala? Não tem uma palavra a dizer perante o que acontece no Algarve, além dos festivais?”, a resposta é nada ou nim.

É sabido que Miguel Ângelo após esculpir a estátua de Moisés, passou por um momento de alucinação diante da beleza da escultura e bateu com o martelo no joelho da figura, gritando: “Por que não falas? Perchè non parli?”  Claro que a estátua nada respondeu mas, segundo se acredita, nela ficou, até hoje a marca do martelo no joelho – uma lasca.

Se repararem bem, os Moisés do Algarve são os que têm uma lasca no joelho. Não é preciso dizer o nome ou os nomes. Basta mostrarem o joelho. Se há lasca, é obra-prima.

Carlos Albino
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Flagrantes seitas: Cada vez mais no Algarve, arregimentando ingénuos e ingénuas, velhotes e velhotas, uns quantos beneficiários do erário público andam pelos campos, fazem ficheiros nas cidades e vilas, servem-se da liberdade de crença quando tudo isso não passa da liberdade da trapalhice, do embuste e do engano. No fundo, sabem que a Sociedade está indefesa.

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