2 outubro 2014
Valendo o que valem, os resultados das eleições primárias no Algarve dão bastantes sinais de que existe uma vitalidade democrática até agora escondida que este tipo de mecanismo, felizmente, pôs em evidência. A partir de agora torna-se defensável que os restantes partidos sigam as pisadas do PS, e que o mesmo método seja aplicado para a escolha de candidatos a cargos eletivos, designadamente deputados e presidentes de câmaras. Se tal fosse possível, os sinais do eleitorado passariam a indicações, e estas, caso fossem respeitadas, em muito contribuiriam para a melhoria e solidez das instituições, reduzindo-se em boa escala as permanentes suspeitas de jogos de poder, e do tráfico de influências, na disputa dos cargos políticos eletivos. A Sociedade apenas teria a ganhar com isso.
Primeira indicação,
a radiografia do PS, com as suas abas sociais de influência assumida, ou seja,
o esqueleto do partido em contra-luz. À cabeça, com elevada importância para
diagnóstico, a visibilidade dos inscritos por concelho, acabando-se de vez com
cálculos subjetivos de importância. Objetivamente, nessa radiografia do
PS/Algarve, Loulé lidera com 1.188 inscritos, seguindo-se Faro (1.163), e
depois, já relativamente longe da fasquia do milhar, Olhão (894) e Portimão (801).
Abaixo do meio-milhar ficam Tavira (489), Lagos (348) e Vila Real SA (295),
seguindo-se o grupo das duas centenas – Lagoa (231), Castro Marim (224) e
Silves (223). Mais dois com centena e picos, São Brás (141) e Vila do Bispo (120),
e, finalmente, onde à centena não se chega, Monchique (97), Aljezur (88) e
Alcoutim (66). Esta é a radiografia.
Segunda indicação,
os resultados. À exceção de Aljezur, onde, dos escassos 71 votantes, António
José Seguro obteve 54,9 % contra 24% de António Costa, este ganhou em todos os
concelhos, sendo mais expressivos politicamente os 87,2% em Faro, 84,8% em
Loulé e 84,3% em Portimão, a dar alguma explicação aos resultados do PS nas
autárquicas, exitosos ou não, conforme os candidatos locais já então vinham a posicionar-se
na questão interna, mas já latente no partido. Os êxitos foram geralmente por
mérito próprio dos candidatos locais e os fracassos foram ditados pela
desmotivação ou mesmo divisão do partido. As primárias provaram suficientemente
isto.
Terceira indicação,
a votação maciça do Algarve em António Costa, além da explicação pontual de
enormes êxitos e também de paradoxais fracassos nas autárquicas, não anda longe
de traduzir o desapontamento da área geral do PS/Algarve pelas escolhas de
António José Seguro para a Assembleia da República e para o Parlamento Europeu,
ferindo a visibilidade política mas também a sensibilidade da Região. Para São
Bento, o PS apenas conseguiu carrear dois deputados, mas na prática tem apenas
um. E para o Parlamento Europeu, o ex-secretário geral apenas despendeu o
esforço para colocar, em 19º lugar simbólico, um candidato do Algarve. Esta
secundarização da representação política do Algarve, conjugada com a omissão
constante dos problemas dramáticos da Região, ditou o desfecho das primárias.
Carlos Albino
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