9 outubro 2014
Corre uma petição
pública dirigida à Presidente da Assembleia da República, lançada pela
Ordem dos Arquitetos nesta segunda-feira passada, Dia Mundial da Arquitetura,
contra duas propostas de lei em estudo no parlamento. As propostas de lei
incidem no regime jurídico da atividade da construção e às qualificações dos
técnicos na elaboração e subscrição de projetos, e ainda à fiscalização e
direção das obras. Em causa está a hipótese dos arquitetos voltarem a ser excluídos
de atividades que a eles no interesse público diz respeito por inteiro e ficar
desvalorizada a sua qualificação. João Santa-Rita, presidente da Ordem dos
Arquitetos, tem toda a razão em alertar que, se tais propostas forem aprovadas,
isso significa um grande retrocesso no exercício da profissão de arquiteto, e
até representa, futuramente, um risco para a sociedade, ao pôr em causa a
qualidade das suas construções”.
Ou seja: técnicos
que não são arquitetos poderão voltar a assinar projetos, voltando o País à
triste fase da construção generalizada de galinheiros, casotas de cão por dá cá
aquela palha, e reconstruções macacas que um pouco por todo o lado fizeram de
belos edifícios do passado meras casas de banho e transformaram vastas áreas da
paisagem urbana em pardieiros. O Algarve está cheio disso, entra pelos olhos
adentro, e houve disparates que pela grandiosidade e extensão só podem ser
corrigidos com um bombardeamento aéreo.
Não estou a dizer que
os arquitetos não tenham cometido também eles erros – já aqui temos escrito
sobre arquitetolas que mais não imitam que os engenheirolas que nada têm a ver
com os Engenheiros de letra maiúscula. Também não estou a dizer que a Ordem dos
Arquitetos tenha feito tudo o que devia fazer para pôr “na ordem” alguns dos
seus membros, sobretudo alguns instalados nas câmaras que usam régua e compasso
como instrumentos autoritários da estética invocada em vão, num afã arbitrário
e por vezes infantil. Mas esta é outra ordem de ideias e compete e competirá à
Ordem escrutinar a qualidade dos seus membros e a forma como gerem ou impõem
supostos critérios “técnicos” quer aos decisores políticos, quer à Sociedade, a
mesma Sociedade que é destinatária dos apelos da Ordem para que se evite o
pior. Eu que sou mera linha de fuga dessa Sociedade, assinei a petição e não
estou arrependido. Não sei se a petição da Ordem conseguirá evitar o pior, mas
também peço à Ordem que os seus membros não dêem pretextos para que não se
tenha ou perca confiança nos arquitetos.
Desejo que João
Santa-Rita leve a bom porto a sua cruzada, mas também lhe peço: ponha os
seus arquitetos na ordem. Em quase todo o Algarve, onde há muita brincadeira de
menino e menina de parque infantil, isso se lhe agradece. Mas, enfim, a gente
só se lembra de Santa Bárbara e possivelmente de Santa Rita quando faz trovões.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante vontade de rir: Há anos e anos que se espera pela “sinalética turística”, e com isso pela sinalética cultural, histórica e do património, nas principais estradas do Algarve e às entradas das nossas cidades. Os responsáveis nada fazem nem deixam fazer, e possivelmente não percebem e não entendem o que deveriam fazer. Gente desta, dá vontade de rir.
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