Na hora em que
percas a crença, senta-te.
Senta-te à hora em que ninguém circula e te veja,Senta-te nos degraus de uma igreja qualquer
Onde nenhum deus durma, nenhuma voz te minta,
E não chores por ti, chora pela cidade que te viu nascer
Chora até ao fim, mas não digas uma palavra que seja,
Pois quando crês que a palavra sustenta-te,
É a descrença que fala por ti e não tu a dá-la por extinta.
Quieto, fica aí
nesses degraus que foram talhados
Por crença e embuste, que são os degraus ondeUm país sentado talhou e talha o seu desengano.
Chora, que a tua terra natal é também a tua terra mortal.
Mas esquece o segundo, a hora, o dia, o mês e o ano
A que a tua inteira crença perdida corresponde,
Para que jamais te lembres quantos anos foram passados
Desde o momento da crença pura e inicial.
E quando sentado
nesses degraus sentires falta
De alguém que passe, mesmo que não seja ninguém,Alguém que te bata no ombro, e seja apenas o vento,
Ou espelho em que a imagem da descrença é a crença,
Então, a primeira palavra que te nascer do pensamento
Terá as sílabas e o som que o teu choro contém,
Que o choro é sempre a primeira palavra que assalta
Quem nasce crente e morre descrente, por secreta sentença.
Na Matriz de Loulé, 21 outubro 2014 (02:10)
Carlos Albino______________________________
Flagrante ignorância de luxo: Um importante hotel implantado no litoral louletano, diz no seu site oficial e em várias línguas, que a gastronomia da zona “ veio dos povos Visigodo e Romano que se estabeleceram neste local de Vilamoura, deixando traços inconfundíveis de distintas civilizações”… Essa dos visigodos não deixa traços – deixa indigestão, para não falar de consequências piores. Se a ignorância tivesse estrelas, esta teria oito.
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