Acabam de subir ao
noticiário quotidiano, duas notícias que, devido às causas, não parecendo
parentes pelos efeitos, são da mesma família. A primeira das notícias dá conta
de que há mais candidatos à Casa dos
Segredos (105 mil) do que às universidades (42 mil). A segunda das notícias vem do Eurobarómetro:
Portugal apresenta um dos índices de leitura mais baixos da Europa. E como
corolário, a queda a pique de editoras e livreiros um pouco por todo o País,
com João Alvim, presidente da APEL, a advertir que o comércio do livro e com
ele a sua importância e função cultural, está numa encruzilhada. A estas duas
notícias somam-se as do encerramento de jornais locais e regionais a contrastar
com o progresso das revistas da mais degradante cuscuvilhice típica dos bordéis,
da conversão dos grandes jornais em meras vozes dos donos, da sina das rádios
locais serem meras grafonolas numa tentativa de sobrevivência, etc., até se
chegar às rádios e televisões, a pública e as privadas de cobertura “nacional”,
saturadas não com desporto mas com o entulho do desporto e outros entulhos,
numa competição de “audiências” em que o nivelamento é por baixo e não por
cima, é para o que tende para o abjeto e não para o que devia ser trajeto para
a melhoria da Sociedade. É o que temos e é o que somos.
O Salazar,
contrariamente a Franco, teve um objetivo que cumpriu: o de impedir, ou pelo
menos o de dificultar tudo o que lhe cheirasse a fator de multiplicação de
cultura, informação e ciência, coisas que apenas podem existir com a Liberdade
de pensamento, de expressão e de criação. Foi assim que ele deixou um país de
analfabetos e de gente que não teve acesso ao ensino, não teve acesso ao saber
e que perdeu quase até ao ponto zero, o sentido de convivência, do
associativismo e do conhecimento. Essa foi a grande diferença entre a ditadura
portuguesa e a ditadura espanhola. O Franco, sobretudo na fase final do seu
franquismo, tolerou e até fomentou, embora contidamente sobretudo nas
universidades, o que o Salazar proibia e policialmente perseguia numa linha que
o Caetano manteve, descontada uma leve e tão ilusória quanto passageira aragem.
Por isso, a Espanha enfrentou relativamente bem preparada o seu período de
“transição”, enquanto Portugal teve que construir tudo de raiz, desprovido que
estava dos tais fatores de multiplicação de ciência, informação e cultura.
E quando parecia que
Portugal, enfim, tinha pernas ara andar, com as suas universidades por
todos os cantos, a sua comunicação social, o seu novo aparelho de investigação,
o seu novo edifício de criatividade literária e artística, a sua nova montanha
de novas tecnologias supostamente ao serviço da ciência e da cultura, coisas
sem as quais, pessoas, empresas e a própria sociedade ficam sem alma, pese
aparentarem bom corpo, eis o paradoxo: temos, e de sobra, os tais fatores de
multiplicação, mas estes, em vez de terem condições para agirem e ocuparem os
lugares certos, ou emigram de cabeça baixa, ou por aqui ficam como uma legião
de condenados.
E não posso evitar
dizer: a política atual, perversamente, parece cumprir o velho desígnio da
Ditadura, o de impedir a multiplicação dos factores de cultura e de ciência, da
educação à informação, das pessoas e empresas à Sociedade. Estamos numa enorme Casa dos Segredos e muitos de nós para
aí entrámos por absoluta ingenuidade, com a política enganosa a fazer de
apresentadora.
Carlos Albino
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Flagrante concurso público: Para D. Sebastião do Algarve. Alguns deputados e líderes não passam de Cardeais D. Henrique, outros de Filipes. O Prior do Crato tem uma chance…
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