quinta-feira, 4 de setembro de 2014

SMS 579. De Luís Castro Mendes, poeta.


4 setembro 2014

Aqui fica a resposta a um pedido. O poeta Luís Castro Mendes (o avô, José Rosa Madeira, de Loulé, e pai, o juiz Castro Mendes, saudosa e emblemática personalidade moral de Faro), foi, como embaixador, em missão do Conselho da Europa, a Baku, capital do Azerbaijão, na semana finda. Foi-lhe pedido que fizesse a dádiva de um poema sobre os alicerces do Algarve e os alicerces dessa remota capital. Um jogo que só a Poesia permite e a História deve aceitar. A resposta veio prontamente, com a imagem que antecede e o poema que se segue.

Poema dos alicerces de Baku
prometido a um algarvio desconhecido

O mausoléu do Xa Sirvan
é igual a tantos túmulos mongóis que visitei na Índia.
E as delicadas miniaturas que vejo no museu
são em tudo semelhantes
as que vi na Índia do norte.
Mas já a sepultura do santo sufi me lembra o mosteiro
que existiu  na falésia da Arrifana, no Algarve mouro,
e as ruínas que ficaram do hamman
neste palácio imperial, destruído pelo Czar de Todas as Rússias
do antigamente,
vem lembrar-me os alicerces mouros de Loulé destruídos pelos reis cristãos
e pelos tremores de terra, que ajudam muito
a renovar as civilizações e a limpar as culturas
(tal como as guerras).

Rumi disse "viemos ao mundo para unir, não para dividir".
Mas à beira do mar de Azov preparam-se para continuar a dividir
até a ultima gota de sangue. Aqui é como se estivéssemos longe.
Bebemos bom vinho do país
e as raparigas passeiam pela avenida de cabeça erguida
e cabelo descoberto, só as turistas turcas e iranianas andam de véu
e pouco se fala aqui da guerra dos russos,
pois jorra o petróleo, o petróleo sobe mais à cabeça
do que o vinho neste país.
Eu queria falar em alicerces, tinha prometido a um amigo,
mas acabei a olhar para as suaves e firmes raparigas
do Azerbaijão
e a sonhar com guerras e impérios.
Deus me perdoe...

Luís Castro Mendes
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Flagrante fenómeno: Não é que por essas praias afora, se descobre que na hora de decidir no Algarve, há um sem-número de avestruzes com as cabeças enterradas na areia?

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