No passado dia 2 de
agosto, a Orquestra do Sul fez um ano. À mesma data, se fosse viva, a
Orquestra do Algarve faria doze. Para comemorar o nascimento da segunda e o
adeus à primeira, houve um concerto no Conrad Hotel, e ao que parece nenhum
presidente de câmara do Algarve assistiu. Foi pena, fizeram falta. Deveriam ter
estado para contemplar aquilo que a sua incompreensão levou à falência. A
falência de um projeto que os seus antecessores e as forças económicas que
movem o Algarve não permitiram fazer vingar em tempo útil.
Ninguém duvida da
dificuldade de manter uma orquestra sinfónica digna desse nome e conceito,
numa região em que os principais cultores da música clássica são os residentes
estrangeiros, e os amantes nacionais, não tão escassos quanto isso, no momento
de sair de casa, primam por outras escolhas. Um erário público deficitário, uma
crise financeira instalada a nível nacional, e uma moda internacional de tudo
desmantelar para agradar aos mercados, fizeram o resto. Demasiada adversidade
contra um sonho belo. Para não se fecharem as portas e vender-se em hasta
pública casacas e violinos, os responsáveis fizeram o que lhes pareceu possível
ser feito – Transformaram a sinfónica numa orquestra versátil. Na noite do
primeiro aniversário, passou-se da ópera ao jazz, do jazz ao fado, do fado à
eletrónica, e como mostruário, foi bem sucedido. Nós ficámos a saber do que a
nova orquestra é capaz, e os investidores presentes, se os havia a sério,
folhearam um mostruário. O problema é que da versatilidade à metamorfose vai um
breve passo.
Onde vai parar a
Orquestra do Sul?
Parece que em breve irá
acompanhar a fadista Gisela João, e que se seguirão outros e vários
acompanhamentos. Casamentos? Jantares de ocasião? Cómicos? Danças de roda?
Emanuel? Batizados? - Cuidado. Quem nos avisa nosso amigo é. A noite da
celebração do primeiro aniversário foi simpática, e dói escrever estas linhas.
Mas nas mesas redondas sobre as quais se serviu um magnífico jantar, muitos fizeram
silêncio com receio da metamorfose. Em breve, o rebento que saiu da Orquestra
do Algarve poderá não mais ser um sítio honrado para os grandes intérpretes,
como no caso, felizmente, foi o trompetista Francisco López, e o barítono Job Tomé. Quando isso acontecer, nós
todos seremos responsáveis. Por não nos movermos, não dizermos, não nos
cotizarmos, não exigirmos, não mostrarmos que o Algarve precisa de música
diferente da que se ouve nos supermercados e se escuta nos telemóveis.
Confesso, na inevitabilidade da escolha destes hibridismos, eu não queria
dormir sobre a almofada onde os que dirigem a Orquestra do Sul repousam a sua
cabeça. Mas ficaria de mal com a minha consciência se não lembrasse que um
híbrido tem de manter a natureza do seu elemento fundador intacta, de
contrário, está destinado a perder-se na sua metamorfose e a morrer.
Carlos Albino
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Flagrante falta: Agora, sim. Faz falta um Congresso do Algarve, com reuniões regulares e que seja a voz plural e institucionalmente credível da Região. E não apenas uma assembleia circunstancial de boas vontades. Não se vê outra instituição que possa fazer isso, a não ser a AMAL. De outra forma, toleramos que isto se transforme numa freguesia de Évora.
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