Os partidos – do CDS, pelo PSD, PS, BE
e PCP até aos extra-parlamentares – existem porque há liberdade dos eleitores,
e por entre estes a liberdade de associação política dos militantes. Monsieur
de La Palice diria isto. Quando um partido pode invocar que o conjunto dos seus
militantes traduz uma “minoria esclarecida”, isso será um bom sinal, desde que
a minoria não seja prepotente e não se julgue escolhida por inspiração divina.
Será mau, péssimo sinal quando tal minoria entre em rutura com o eleitorado,
deste se distancia ou dele apenas se aproxima oportunistamente nas vésperas e
nos dias de eleições, esquecendo-o no dia seguinte ou no dia em que, por via do
poder conquistado pelo sufrágio, passem a exercer os mandatos e tomem o comando
das funções e cargos públicos que foram os alvos da disputa. Ninguém que se
submeta ao voto pode dizer, sem hipocrisia, que o poder não lhe é coisa
apetecida. E não há mal nenhum nisto, antes pelo contrário. Mal haverá, sim, se
a conquista do poder decorre exclusivamente do carreirismo e do elitismo. Daí a
responsabilidade dos partidos, primeiramente perante os seus próprios
militantes, depois perante os eleitores circunstancialmente afins, e,
finalmente perante a Sociedade. Além disso, quanto maior for o partido, também
maior a responsabilidade.
A nível nacional, o carreirismo e o
elitismo poderão ser fenómenos que ficam diluídos por pressão das centrais
partidárias ou pelo “sábio” uso dos meios de comunicação, por vezes numa
promiscuidade irritante, mas a nível regional e local, os danos são imediatos –
os eleitores afastam-se e o défice democrático avoluma-se. É o que tem
acontecido no Algarve, sempre que os seus eleitos (deputados e autarcas) estão
na política como aqueles a quem tenha saído a sorte grande. Estão em mandatos,
cargos e funções porque tiveram a sorte ou receberam o favor de figurarem nos
chamados “lugares legíveis” e nada mais. A pessoa pode ser de uma honestidade à
prova de bala, isso não está em causa, mas se é verbo de encher, ou se mandato
e cargo é apenas para encher o seu “eu”, a carreira do seu “eu” e a elite do
seu “eu”, fica tudo estragado.
Ora, tudo começa nas direções regionais dos
partidos. É incompreensível que, sendo regionais, estas fiquem entregues a
gente que vive fora da região semanas, meses e anos, trabalha fora da região de
dia e possivelmente de noite, com carreira fora da região de segunda a sexta, e
eventualmente vindo à região nos sábados e domingos para ver quatro primos,
ralhar com os pais e lanchar com dois vizinhos, pelo que é gente literalmente
desconhecida na região ou cujo nome é reconhecido, vá lá, apenas pelos canais
de imposição da central do carreirismo e do elitismo. Caso se pergunte a essa
gente o que é que deveras fez pelo Algarve ou pela sua terra, a resposta, se
for sincera, terá que ser esta: “Nada”. Poderá ter discursado muito, poderá ter
figurado ao lado de todas as celebridades nacionais, mas não fez nada.
E caso dirijam regionalmente as
estruturas regionais que precisam dos eleitores da região como de pão provinciano
para a boca provincial, naturalmente que essa “direção” só pode ser exercida
por e-mail e por telefone, ou aos sábados e domingos, desde que não haja praia,
faça vento e não caia chuva. Com prejuízo dos primos, dos pais e dos dois
vizinhos.
Ficou bastante por dizer. Temos tempo. Por
ora, para bom entendedor, mais palavra basta. Para os maus entendedores,
Monsieur de La Palice dá a resposta.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante Mendes Bota: Justiça lhe seja feita e reconhecimento devido lhe seja prestado. Neste dia 1 de Agosto, entra em vigor a Convenção do Conselho da Europa para a Prevenção e o Combate à Violência contra as Mulheres e a Violência Doméstica, conhecida, como é da praxe, por Convenção de Istambul, cidade onde foi assinada. Mendes Bota foi o promotor e persistente pugnador da convenção, que é tão importante que deve entrar na casa de cada um. É o Pai da Convenção que por sinal também teve um bom padrinho algarvio: o embaixador Américo Madeira Bárbara.
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