Como era de esperar e muita gente avisou, naturalmente que aquele tal Allgarve não deu em nada. Não deixou nem inculcou hábitos culturais, não promoveu a crença na cultura (antes pelo contrário, deu motivos para a descrença). Muita gente se iludiu porque a região, por relativamente largo período, entreteve-se com algumas dessas tribos nómadas que descem de Lisboa ou do Porto, empurradas pelo subsídio, com muita cultura às costas e pouca na cabeça, ou então muita na cabeça e pouca às costas. Muita gente andou de boca aberta por exposições, performances e outros trejeitos que deveras ninguém entendia porquê, como, para quê. Tudo se esvaziou com um balão, e essa tal sealy season da espampanância de uma cultura fora de órbita, abriu caminho à sealy season da cultura pimba mais pimba que há. Neste mundo pimba em que o Algarve se transformou, até houve já por aí um “evento” cujo ponto alto foi, nem mais nem menos, um anunciado “streap tease clássico”… E está certo, porque o uso da palavra “clássico” tira alguma roupa que ainda fique a tapar o resto da vergonha em que o Algarve se converteu.
Há exceções,
evidentemente, mas são poucas. E as poucas exceções estão condenadas ao
fracasso. A estação pateta domina o Algarve de lés a lés, com o elogio e
prática da barriga, do berro e da manha. E se pela pela promoção da barriga, pela
inflação do berro e da regra da manha houver pecado, as juntas de freguesia
lá conseguirão o perdão para os fregueses com mais umas excursões culturais a
Fátima, ao Castelo de Guimarães e ao Alqueva. Para além disto, sim, ainda temos
as praias, e é preciso que o sol não se esconda e a água não esteja fria. Dizem
os catalães que “é preferível ser cabeça de sardinha que rabo de atum”. Não sei
deveras o que é que no Algarve se pretende atrair, se sardinhas com cabeça, se
rabos de atum.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante
suspeita: Pelo que se houve dizer, por
aí se prepara uma nova divisão geográfica e administrativa do País: do Tejo
para baixo, constará apenas a Região Sul com capital em Évora, e o Algarve ficará
reduzido a um concelho com 16 freguesias.
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