Recordo-me daquele
tempo (2003) em que ouvi Durão Barroso, então primeiro-ministro, anunciar
ao lado de Aznar na Figueira da Foz, uma linha de alta velocidade de Faro até
Huelva. Logo lhe disse que não acreditava. E não acreditava por três razões:
primeiro, pelos portugueses; segundo, pelos espanhóis; e, terceiro, porque a
medida foi traçada com olho semi-fechado sobre o mapa. Vai ver, respondeu. E
estamos a ver. Lá se conseguiu a eletrificação da linha até Faro, lá foram feitas
umas obras mal planeadas numa ou noutra estação, e pouco mais. Qual linha
dupla! Qual Huelva! Nada. Segundo
Barroso, o corredor Faro-Huelva seria planeado “em função dos resultados dos
estudos a desenvolver”, por forma a que estivesse concluída antes de 2018 e, questionado
sobre o financiamento necessário para colocar em prática o plano em período de
contenção orçamental, o então primeiro-ministro assegurou existirem parcerias
com a Refer, com empresas privadas e 20 por cento do Orçamento de Estado. Agora,
o atual governo já não fala em Huelva, nem de 2018, mas promete, além da
eletrificação total da linha do Algarve, uma ligação por comboio ao Aeroporto
de Faro, segundo um plano de infraestruturas prioritárias a concretizar até
2022.
Temos todas as razões
e motivos para não se acreditar nas profecias em matéria de comboios no Algarve
e para o Algarve, até porque aquilo que está à frente dos olhos não são
caminhos, mas sim descaminhos de ferro. As estações estão no colapso e sem
sentido de serviço público, os comboios são sujos, porcos e maus, os serviços
de ligações complementares para as localidades não existem nem os vinculados
(ferroviários e rodoviários) querem que existam (invocam que são “concorrentes”…)
e algumas obras feitas com razoável dispêndio (passadeiras aéreas, por exemplo)
foram dinheiro deitado à rua. Estações sem funcionários ou com funcionários
trazidos de longe por escassas horas; chegam pendulares e inter-cidades com as
portas e serviços fechados, sem que ao menos haja a mínima indicação por onde
os passageiros possam sair do cais de desembarque ou obter informações de
orientação (então quanto a estrangeiros, presenciei estupefacção e
atabalhoamento); as linhas numa imundície completa, com a CP a remeter
responsabilidades para a Refer e esta para a CP, segundo me garantem
funcionários impedidos de explicar mais. Isto não acontece no deserto, mas em
zonas nevrálgicas, populosas e, já agora, de excelência turística, invocação de
bom-tom que fica sempre bem fazer nas reivindicações normais.
Ora, a CP apresenta-se,
desde de Junho de 2009, como uma entidade pública empresarial, detida a 100%
pelo Estado Português, responsável pela prestação de serviços de transporte
ferroviário nacional e internacional de passageiros, articulando-se a REFER e com o IMTT - Instituto da Mobilidade e dos
Transportes Terrestres (entidade responsável pela regulação e pela
coordenação e planeamento).
E a REFER, criada
em 1997, também embandeira como seu objeto principal, o serviço público de
gestão da infraestrutura integrante da rede ferroviária nacional, dizendo
desenvolver as suas atividades de acordo com princípios de modernização e
eficácia, de modo a assegurar o regular e contínuo fornecimento do serviço
público e proporcionando ao mercado uma infraestrutura de transporte
competitiva e segura.
São responsáveis
pela vergonha das linhas de comboios no Algarve não serem paralelas. Estão no
descaminho. A Estação Loulé-Quarteira, é exemplo gritante dessa vergonha.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante abraço: Foi feita uma homenagem a João Leal pelos seus anos de escrita. Por razões imperiosas não estive lá. Se lá tivesse estado, diria: “Aqui está um homem que raramente escreveu sobre si próprio, escreveu sempre sobre os outros, e, para ele, o Algarve não foi nem é um outro qualquer, é ele próprio entregando-se-lhe na escrita”. Tenho dito porque sou testemunha desse amor à terra.
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