Mais um estudo, por
aí lançado e apresentado, sobre o que une os portugueses. Pelo que foi
apresentado nas ideias mais fortes, parece que aquilo que une os portugueses é
o fado, o futebol e Fátima, com alguns acrescentos. Confesso que não sei para
quê estudar-se tanto. Com as televisões, designadamente a do “serviço público”,
a desconstruírem na mira de audiências, dia a dia, noite a noite, aquilo que as
Escolas tentam construir, reservando, por sua vez, para canais fechados aquilo
que uma minoria da sociedade entende, não admira absolutamente em nada que os
portugueses se julguem unidos pelo preço certo, não porque o mereçam, mas
porque os produtos “à venda” são praticamente aqueles e apenas aqueles.
É claro que o estudo
não refere algo mais evidente que une os portugueses, talvez porque não tenha
sido referido nos inquéritos. Por exemplo, o oxigénio ou o ar que se respira. A
omissão é lamentável num estudo desses, porquanto, à partida, o oxigénio une os
vivos e certifica os mortos. Há outras realidades e factos que unem os
portugueses, mas não nos compete completar o estudo. Fiquemos pelo oxigénio que
já vai faltando à grande parte se não à maioria dos portugueses.
Mas, com ou sem ar
para respirar como factor de união e como condição para articular palavras,
os portugueses que citam o fado, o futebol e Fátima como instrumentos de
coesão, não o fazem por medo. Fazem-no por pavor. O medo, até se expressa. O
pavor, não. O pavor engole-se, torna-nos mudos, torna a sociedade muda e,
paradoxalmente, até se transforma em factor de união.
O pavor do
desemprego, o pavor dos salários baixos aceites pelo medo de nem isso se
ter, o pavor por quem contrata livre de condições, o pavor do fisco do qual
ninguém tem medo mas pavor, a que se acrescenta para muitos e para cada vez
mais, não o medo mas o pavor da fome. Para não se falar do pavor do isolamento
e da exclusão, o pavor da saúde se transformar num produto de mercado deixando
de ser direito, o mesmo podendo acontecer com a educação, por aí fora,
salvando-se apenas o fado, o futebol e Fátima. Não é preciso estudar muito, nem
fazer-se grande esforço para os portugueses, na sua longa História, não por
medo mas por pavor, mais uma vez se declararem muito agradecidos ao Clero, à
Nobreza e ao Povo, por aquilo que os une. Obrigado.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante capacho: Para as televisões do Porto e de Lisboa (não há outras), o Algarve é um capacho.
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