Quanto à imprensa, designadamente imprensa local e regional do Algarve, não é apenas crise, é morte, é fim. Fim em quantidade, e perto disso em qualidade. Ligando-se isto a uma região sem centro televisivo ou sem espaço autónomo condigno nas televisões, com as rádios locais convertidas em barrigas de aluguer sem qualquer ligação à terra ou em gira-discos com mais ou menos volume, com atividade noticiosa própria reduzida a zero ou dependendo do controlo remoto sem pilhas, não é apenas um mau sinal, é um péssimo sinal.
De há uns cinco anos
para cá, sobretudo desde que se liquidou a obrigatoriedade de publicidade
local dos concursos públicos, vários
alertas foram lançados pelos desistentes. Não serviram de nada, pelo que as
estocadas na sustentabilidade da imprensa das comunidades locais e da
comunidade regional (que, bem vistas as coisas, nunca chegou a ser comunidade)
foram sendo dadas sem dó nem piedade. Noutras regiões do país, onde se pode
falar apenas de crise, as empresas ancoradas nessas mesmas regiões, e, ainda
assim, práticas e hábitos de leitura, têm assegurado a existência mais ou menos
sólida de jornais que, ao mesmo tempo, souberam capturar vantagens associadas
pelo recurso às novas tecnologias. Outras regiões mantêm os seus semanários
locais e regionais, bissemanários, diários até. No Algarve, às estocadas
legislativas, somou-se o tradicional divórcio das empresas que operam na região
mas que na região não têm nem querem simuladamente ter nem o coração nem a carteira.
Estão fora disto, o seu território não é o da Sociedade, é o dos clientes que
chegam e partem.
Não é apenas uma
causa mas várias causas que estão na base da derrapagem da imprensa no
Algarve, onde o surgimento da informação on-line não chega a ser causa do
desastre nem de concorrência da palavra impressa, muito menos da liquidação do
braço armado das opiniões públicas e do escrutínio digno de ficar em arquivo.
É uma opinião que
vale o que vale, mas não hesito em referir que, no Algarve, há uma elevadíssima
taxa de relutância à leitura, auto-justificada por falta de interesse pela
matéria publicada com enorme desfasamento no tempo (a região não dispõe de
equipamentos de produção adequados pelo que uma imprensa sem produção própria é
como portos sem rebocador). Não há leitores e esta é a questão. E porque
chegámos a uma situação de sociedade sem leitores do que mais diretamente lhes
deveria interessar, é o problema que urge debater.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante alteração climática: Felizes aqueles tempos em que o começo das amendoeiras em flor era notícia de primeira página nos diários nacionais. Agora, nem na necrologia constam. Efeito de estufa.
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