quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

SMS 550. Apenas mau? É péssimo sinal

6 fevereiro 2014

Quanto à imprensa, designadamente imprensa local e regional do Algarve, não é apenas crise, é morte, é fim. Fim em quantidade, e perto disso em qualidade. Ligando-se isto a uma região sem centro televisivo ou sem espaço autónomo condigno nas televisões, com as rádios locais convertidas em barrigas de aluguer sem qualquer ligação à terra ou em gira-discos com mais ou menos volume, com atividade noticiosa própria reduzida a zero ou dependendo do controlo remoto sem pilhas, não é apenas um mau sinal, é um péssimo sinal.

De há uns cinco anos para cá, sobretudo desde que se liquidou a obrigatoriedade de publicidade local dos concursos públicos,  vários alertas foram lançados pelos desistentes. Não serviram de nada, pelo que as estocadas na sustentabilidade da imprensa das comunidades locais e da comunidade regional (que, bem vistas as coisas, nunca chegou a ser comunidade) foram sendo dadas sem dó nem piedade. Noutras regiões do país, onde se pode falar apenas de crise, as empresas ancoradas nessas mesmas regiões, e, ainda assim, práticas e hábitos de leitura, têm assegurado a existência mais ou menos sólida de jornais que, ao mesmo tempo, souberam capturar vantagens associadas pelo recurso às novas tecnologias. Outras regiões mantêm os seus semanários locais e regionais, bissemanários, diários até. No Algarve, às estocadas legislativas, somou-se o tradicional divórcio das empresas que operam na região mas que na região não têm nem querem simuladamente ter nem o coração nem a carteira. Estão fora disto, o seu território não é o da Sociedade, é o dos clientes que chegam e partem.

Não é apenas uma causa mas várias causas que estão na base da derrapagem da imprensa no Algarve, onde o surgimento da informação on-line não chega a ser causa do desastre nem de concorrência da palavra impressa, muito menos da liquidação do braço armado das opiniões públicas e do escrutínio digno de ficar em arquivo.

É uma opinião que vale o que vale, mas não hesito em referir que, no Algarve, há uma elevadíssima taxa de relutância à leitura, auto-justificada por falta de interesse pela matéria publicada com enorme desfasamento no tempo (a região não dispõe de equipamentos de produção adequados pelo que uma imprensa sem produção própria é como portos sem rebocador). Não há leitores e esta é a questão. E porque chegámos a uma situação de sociedade sem leitores do que mais diretamente lhes deveria interessar, é o problema que urge debater.

Carlos Albino
________________
Flagrante alteração climática: Felizes aqueles tempos em que o começo das amendoeiras em flor era notícia de primeira página nos diários nacionais. Agora, nem na necrologia constam. Efeito de estufa.

Sem comentários: