Fala-se de “sociedade
civil” como se a Sociedade estivesse dividida em várias sociedades que,
talvez por pudor ou auto-defesa, não são nomeadas mas subentendem-se – a
sociedade política, a sociedade militar, a religiosa, a cultural, e ainda a
recreativa. E então diz-se que a sociedade civil acorda politicamente como
resposta senão mesmo contraposição à organização partidária como se esta não
fizesse parte da Sociedade, tivesse caído do céu aos trambolhões e além disso
não fosse tão civil como os que se reclamam de civis sem nunca terem sido
militares ou clérigos. Ainda se atribui o epíteto “civil” quando a força, grupo
ou movimento resulta de iniciativas espontâneas, algumas, outras filhas do
fracasso sobretudo político, outras ainda máscaras de protagonismos bem ou mal
calculados. Por efeito de algum êxito desta confusão, são já os próprios
partidos a programarem a sua aproximação à sociedade civil, o que é um paradoxo
– se os partidos estão longe da Sociedade, obviamente que deixam de ser
partidos e passam a ser meramente nomenclaturas e tribos de interesses. Mas
também se classifica igualmente de “civil” o que não esteja enquadrado no
Estado, como se o Estado não fosse civil embora nem sempre apareça casado com
comunhão geral de bens, e, assim sendo, como se a “sociedade civil” tivesse que
ser algo por natureza oposta ao Estado.
Naquele tempo em
que a Sociedade não era democrática e muito menos o Estado o era, confundia-se
Estado com Governo, confundia-se partido único com Governo e com Estado, e
portanto tínhamos os que estavam com a “situação” com as suas forças vivas, e
os que estavam “contra a situação” sofrendo as consequências, designadamente a
da criminalização da opinião contrária à “situação”. Hoje, felizmente, temos
uma Sociedade democrática que dita um Estado democrático, a formulação de
opiniõe4s é livre, a escolha do Governo é , tenham os autores da escolha
escolhido mal ou bem, não há nem pode haver uma “situação” – há a vontade da
maioria em cada momento, vontade essa que pode mudar a qualquer momento mas com
regras porque vivemos em sociedade. Significa isto que uma Sociedade limpa das
teias totalitárias, é forte quando é dinâmica no escrutínio sempre que o
Governo tenta confundir-se com o Estado, quando debate ideias e não chefes
partidários, quando a Cultura é um lema e uma prática nas suas diversas
manifestações, quando se nivela por cima e não por baixo, quando procura um
padrão superior de civilização, e quando visa mais diretamente o bem comum e
menos o interesse geral que é sempre o disfarce estatístico do interesse
dominante e dos mais fortes, não pela razão mas pelas pertenças.
Neste 2014 que
começou, e não é sem tempo, é uma Sociedade dessas que gostaríamos de ver
no Algarve de lés a lés, já agora, no Algarve civil. Uma Sociedade com voz e
que não tenha que passar pela humilhação de lhe chamarem “civil” para ser
sociedade.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrantes votos: A Associação de Turismo do Algarve dispõe de seis milhões de euros para promover “a marca Algarve” nos mercados nacional e internacional. Façamos votos para que promova com cabeça, tronco e membros, porque já houve muita promoção sem cabeça, sem tronco e sem membros.
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