quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

SMS 546Sociedade civil

9 janeiro 2014

Fala-se de “sociedade civil” como se a Sociedade estivesse dividida em várias sociedades que, talvez por pudor ou auto-defesa, não são nomeadas mas subentendem-se – a sociedade política, a sociedade militar, a religiosa, a cultural, e ainda a recreativa. E então diz-se que a sociedade civil acorda politicamente como resposta senão mesmo contraposição à organização partidária como se esta não fizesse parte da Sociedade, tivesse caído do céu aos trambolhões e além disso não fosse tão civil como os que se reclamam de civis sem nunca terem sido militares ou clérigos. Ainda se atribui o epíteto “civil” quando a força, grupo ou movimento resulta de iniciativas espontâneas, algumas, outras filhas do fracasso sobretudo político, outras ainda máscaras de protagonismos bem ou mal calculados. Por efeito de algum êxito desta confusão, são já os próprios partidos a programarem a sua aproximação à sociedade civil, o que é um paradoxo – se os partidos estão longe da Sociedade, obviamente que deixam de ser partidos e passam a ser meramente nomenclaturas e tribos de interesses. Mas também se classifica igualmente de “civil” o que não esteja enquadrado no Estado, como se o Estado não fosse civil embora nem sempre apareça casado com comunhão geral de bens, e, assim sendo, como se a “sociedade civil” tivesse que ser algo por natureza oposta ao Estado.

Naquele tempo em que a Sociedade não era democrática e muito menos o Estado o era, confundia-se Estado com Governo, confundia-se partido único com Governo e com Estado, e portanto tínhamos os que estavam com a “situação” com as suas forças vivas, e os que estavam “contra a situação” sofrendo as consequências, designadamente a da criminalização da opinião contrária à “situação”. Hoje, felizmente, temos uma Sociedade democrática que dita um Estado democrático, a formulação de opiniõe4s é livre, a escolha do Governo é , tenham os autores da escolha escolhido mal ou bem, não há nem pode haver uma “situação” – há a vontade da maioria em cada momento, vontade essa que pode mudar a qualquer momento mas com regras porque vivemos em sociedade. Significa isto que uma Sociedade limpa das teias totalitárias, é forte quando é dinâmica no escrutínio sempre que o Governo tenta confundir-se com o Estado, quando debate ideias e não chefes partidários, quando a Cultura é um lema e uma prática nas suas diversas manifestações, quando se nivela por cima e não por baixo, quando procura um padrão superior de civilização, e quando visa mais diretamente o bem comum e menos o interesse geral que é sempre o disfarce estatístico do interesse dominante e dos mais fortes, não pela razão mas pelas pertenças.

Neste 2014 que começou, e não é sem tempo, é uma Sociedade dessas que gostaríamos de ver no Algarve de lés a lés, já agora, no Algarve civil. Uma Sociedade com voz e que não tenha que passar pela humilhação de lhe chamarem “civil” para ser sociedade.

Carlos Albino
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Flagrantes votos: A Associação de Turismo do Algarve dispõe de seis milhões de euros para promover “a marca Algarve” nos mercados nacional e internacional. Façamos votos para que promova com cabeça, tronco e membros, porque já houve muita promoção sem cabeça, sem tronco e sem membros.

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