Fazem-se os
partidos para a conquista do poder ou da
representação através do voto geral. As escolhas de quem se apresenta para essa
conquista, a nível regional (deputados) ou local (municípios e juntas) fazem-se
pelos mecanismos da chamada “democracia interna” segundo critérios em que
deveria imperar a competência aliada à probidade, o dinamismo aliado à
criatividade e também as incontornáveis provas públicas. Nem sempre estes
critérios são tomados em devida conta, com os partidos a deixarem-se ir na onda
dos jogos de influência pessoal ou a deixarem-se arrastar por interesses
apostadores, voltando costas a princípios, valores, programas e ideias e a
focarem o poder pelo poder na mira do poder ser exercido em função de
interesses difusos ou de afirmações pessoais. Quando isto acontece, de vez em
quando os partidos entram também na chamada “rutura interna”, do que resultam
facções dominantes ou literalmente dominadas ou, então, mais tempo menos tempo,
dão azo, por enquanto apenas a nível local, a candidaturas independentes, umas
com êxito, outras não, conforme a implantação da facção dissidente e a bitola
da dissidência. Também acontece, os partidos chegarem ao ponto de que se
convencerem de “não terem ninguém”, recorrendo a independentes cuja
independência apenas significa não estarem inscritos em partidos, o que é muito
pouco ou mesmo nada para traduzir independência. Isto é normal, não é por aí
que a democracia se corrói, antes pelo contrário, pode contribuir para os
partidos se confrontarem com a sua própria verdade. A democracia apenas ganha
com as escolhas feitas pelo critério de excelência e probidade dos candidatos,
independentemente da militância ou não dos candidatos. Claro que também podem
surgir os independentes fora dos mecanismos partidários mas que, na prática,
não deixam de configurar uma espécie de “partidos espontâneos” ou partidos ad
hoc”, com maior ou menor duração, por vezes a exercerem o escrutínio dos
partidos formais e que estes internamente atempadamente não fizeram. Somos
livres e o sufrágio manda.
O problema é quando os partidos, a nível regional ou local,
julgando-se isentos do escrutínio público ou com resultados à vista que pensam
ser favas contadas, propõem a sufrágio listas emanadas do clientelismo, umas
vezes impostas pelos diretórios de Lisboa, outras vezes prefigurando a mera
distribuição, entre compadres, dos lugares tidos como elegíveis. Ou seja,
listas de nomes do aparelho e da vontade circunstancial do aparelho, sem
atender a critérios de competência e probidade (uma coisa, na hora do voto, não
se desliga da outra, e raramente o marketing político compensa essa falta de
visão, como estas autárquicas, aqui e ali, comprovaram). A nível local
(municípios e juntas), o fator de proximidade pode corrigir a distorção do
clientelismo. Já a nível regional (eleição de deputados) essa proximidade
apresenta-se muito mais rarefeita, se é que existe dado que a “vivência
regional” ou identitária, no caso do Algarve, é uma figura de estilo que pouco
passa para além da realidade geográfica.
As eleições
para o parlamento aproximam-se (as
europeias são apenas fator de consideração dos diretórios de Lisboa e o Algarve
nelas pouco conta como se tem verificado) e se queremos ter deputados que
representam a sério a região e desta sejam porta-vozes com constância e
excelência, é esta a hora de lembrar que o aparelhismo é o Alzheimer da
democracia. O Alzheimer da democracia interna dos partidos e o Alzheimer da
própria democracia onde os próprios partidos se fundamentam e justificam.
Carlos Albino
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Flagrante esquecimento: Contrariamente ao que acontece com outras regiões (Açores, Beiras, Alentejo, por aí fora) o Algarve esquece e deixa cair como velharia inútil a sua Casa do Algarve em Lisboa, quando dela a região tanto precisaria. Sinal dos tempos.
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