Com dez câmaras para o PS, cinco para o PSD (uma, a de Faro, em coligação com o CDS) e uma para o PCP (CDU, para os devidos efeitos), obviamente que o Algarve ficou com uma expressão política diferente. Em 2009, o bolo era dominado pelo PSD com nove câmaras (uma, também em coligação com o CDS), restando então para o PS a liderança em sete municípios.
Facto relevante foi, de modo geral, o comportamento do eleitorado mais
rural, quer para juntas de freguesia, quer, por arrastamento, para assembleias
municipais, que deu um expressivo empurrão ao PCP e amparou o PSD numa queda
maior. Relevantes também foram a vitória de Isilda Gomes em Portimão (depois de
tudo o que se passou), ainda a vitória de Vítor Aleixo em Loulé (aqui, de
facto, uma vitória de David contra Golias, em função dos meios
desproporcionados e da campanha luxuosa do PSD), como também, pela negativa, a
derrota em Lagos do deputado do CDS, Artur Rêgo, que não foi além dos 6,37 por
cento dos votos.
Mas, independentemente de vitoriosos ou
derrotados, e de forças regionalmente
liderantes, há algumas conclusões a tirar destas eleições. Para já, Faro por
que todos os candidatos pugnaram, desta ou daquela forma, para se afirmar como
“capital” da região, ficou na contra-corrente da mesma região, perdendo
manifesto protagonismo político que também não soube ou não conseguiu afirmar
quando as eleições de 2009 lhe deram sopa no mel. Pelas inevitáveis
consequências dos resultados do dia 29 (na AMAL e, mais tarde ou mais cedo em
órgãos regionalmente relevantes, como a RTA), a “capitalidade” vai ficar
repartida, senão mesmo deslocada. É uma questão de tempo, até porque as
europeias e as legislativas aproximam-se e os sinais da alteração do mapa
político da região são mais do que evidentes.
Depois, como muitos previam e bem, pela primeira vez a eleição dos presidentes das juntas de
freguesia ganhou importância, nalguns casos decisiva para o desfecho dos
sufrágios para as câmaras. Os presidentes de juntas eram, até há pouco e por
inércia, uma espécie de atrelados políticos dos candidatos às câmaras, e a
situação inverteu-se. Alguns presidentes de câmaras foram eleitos pela
influência dos candidatos às juntas e alguns perderam também por isso mesmo. Nem
sempre os métodos foram recomendáveis e, aqui e ali, houve mesmo casos de
figuras que atuaram como os antigos regedores do Estado Novo, prestando-se a
procedimentos próximos do caciquismo, a deslealdades que desonram a dignidade
do voto. Casos isolados, sem dúvida, mas fica, para memória futura, a grande
lição de que os candidatos às juntas não são verbos de encher, ou figuras
decorativas das campanhas. E num momento em que as juntas recebem mais
competências e mais verbas, tudo aponta para que os partidos repensem a sua
responsabilidade nas escolhas e nos procedimentos, sobretudo nos meios rurais,
de eleitorado idoso e onde a democracia mais faz transparecer inevitavelmente
as suas contradições.
Carlos Albino
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Flagrantes independentes: Nem todos.
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