quinta-feira, 7 de março de 2013

SMS 503. Na verdade, é o alicerce

7 março 2013

Ao longo destes anos de vivência democrática, os órgãos das freguesias (assembleia e junta) acabaram por se encaixar como que um adorno do sistema e pouco mais, pelo que a generalidade dos eleitores nem sabe bem como funcionam, que exatas competências têm, o muito que criativamente podem fazer e também o muito para que podem servir, desde os interesses inequívocos da população aos interesses difusos e jogadas obscuras. Na hora do voto, a atenção geral polariza-se no candidato a presidente de câmara, e quanto a freguesias, a decisão é tomada em função do que parece ser boa ou má figura da terra, do seu feitio e também por vezes do maior ou menor número de peregrinações de baixo custo a Fátima.

Nas terras em que as câmaras têm a sua sede, então, a importância dos órgãos da freguesia some-se, a sua eleição, de modo geral, dá-se por arrastamento, e acabada a eleição quase ninguém dá pela junta ou pela assembleia cujas reuniões também se convertem numa formalidade de significado menor. Ora, não é bem assim, ou não deveria ser assim. Os alicerces da democracia estão deveras nas freguesias, tudo começa por aí e é por aí que se pode avaliar se a democracia tem ou não qualidade, e se os órgãos eleitos agem com a consciência de que receberam um mandato para ser exercido com responsabilidade e verdade, ou se, pelo contrário, atuam como se o poder de que estão investidos ainda que seja pouco seja coisa da sua propriedade privada ou como se estejam a fazer um favor mais ou menos pavoneado.

É verdade que a qualidade de uma democracia se avalia a olhos vistos pelos exemplos que vêm de cima ou que são dados nas instituições lá em cima, mas a fortaleza do sistema depende dos alicerces, e estes começam nas freguesias, cuja voz será rouca se o presidente da junta for rouco e cuja caligrafia será engelhada se a assembleia eleita não passar de um grupo de analfabetos funcionais. Admito que os partidos tenham dificuldade em encontrar quadros que, além de quadros, sejam de uma generosidade que nem sempre a sociedade paga nem o Estado reconhece, mas já é tempo de fazerem listas limpas de oportunismos, limpas de chicos-espertos, limpas de clientelas que sobrevivem à custa de um populismo que nada tem a ver com as finalidades e nobreza do exercício político do poder, limpas dos números de encher. Admito ainda que essa dificuldade seja acrescida quando na engrenagem entram os grupos de independentes, sobretudo nascidos do ressaibo do partidarismo ou jogando com as contradições deste. É um esforço que se lhes exige, terra a terra, porque a democracia não é coisa que vogue nos céus, começa por ser o somatório das democracias locais. Diz-me a qualidade desse somatório e dir-te-ei o que pode acontecer lá em cima, ou que se permite que lá em cima aconteça.

Carlos Albino
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    Flagrantes erros de palmatória: O que não vai por aí quanto a erros de português nos cartazes sobre isto e aquilo, na toponímia e na sinalética… Não há olhos?

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