quinta-feira, 21 de março de 2013

SMS 505. Os números do turismo


21 março 2013

De enchentes repentinas a casas fechadas para obras seguidas de encerramentos e despedimentos, o turismo arrasta-se na incerteza dos números do noticiário quotidiano. Num dia, noticia-se que os hotéis estão cheios, no outro dia diz-se que estão a meio vapor, ora se garante que a enchente se dá apenas onde há muitas estrelas, ora com a mesma ligeireza se vaticina que ingleses compensam a ausência de espanhóis ou que alemães fazem fila à mistura com uns quantos franceses. Ora se diz que no domingo de Páscoa está tudo a abarrotar, ora se avança com a previsão de que na segunda-feira é o deserto. Não há segurança nas previsões porque também não há muito por onde colher informação confiável, e, além disso, a informação disponível é do curto prazo e depende do que os operadores disserem. O Algarve que apresenta um défice informativo brutal e que por isso depende da informação ancorada noutras paragens e por certo colada a interesses concorrentes, ora adormece com títulos pessimistas que por vezes parecem redigidos com gáudio, ora acorda com anúncios de muitas dormidas mas sem ganhos, o que vai dar na mesma. Não há, pois, um Observatório do Turismo, algo que já foi tentado mas politicamente liquidado, que imponha credibilidade aos números, às tendências e aos quadros previsionais que dizem respeito à principal atividade económica da região; há quando muito uns apanhados que dependem da boa vontade de quem colabora e também da verdade que se revele conveniente, com as dezenas ou centenas de atividades que vivem a jusante com a porta aberta à espera do acaso. Temos uma Universidade pública com cartas dadas na área, com estudos e saber consolidado mas que ou é ela que vive à margem dos interessados ou são os interessados que se colocam à margem. Pelo menos assim parece, e se ou quando assim não é, não deixa de ser coisa quase de segredo dos deuses. Chama-se a isto défice de informação. Défice de comunicação, défice noticioso, défice de imprensa, imprensa essa que, sem autonomia de produção e sem proximidade de fabrico, não pode deixar de ser retardatária. A agravar a situação, não existe aquilo que possa ser designado por agenda do Algarve, uma agenda que, pelos canais complementares, sirva o turismo e as populações onde ele se desenvolve, não podendo um elemento ser dissociado do outro. Neste campo, está quase tudo por fazer e o pouco que chegou a ser feito ou tentado, foi lamentavelmente destruído. Como resolver? Há responsáveis que podem e devem sentar-se a uma mesa, porque bastante mais pode e deve ser feito sem se estar à espera do orçamento e que chova algum milagre do centralismo.

Carlos Albino
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    Flagrante boa-nova: Dália Paulo, diretora regional de Cultura, anunciou para 2015 uma nova face para Sagres, apostando-se num polo cultural de referência. Era por aí que se devia ter começado há muito, mas como ainda faltam dois anos, aguardemos. Ver para crer.

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