quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

SMS 500. Toda a gente vê e percebe

14 fevereiro 2013

Por todos os cantos se fala da “reforma do Estado”, associando-se a tal pretendida reforma cortes orçamentais aqui e ali e não àquilo que deveras merecia reforma urgente – a reforma das mentalidades, a reforma dos procedimentos e usos da democracia, a reforma do centralismo estatal gerador de uma cadeia infinda de mordomias e postos de ociosidade, a reforma dos frágeis mecanismos do Estado que permitem a prática de verdadeiros crimes públicos cujos efeitos são pagos dura e cruelmente por aqueles que os não cometeram. As causas do estado a que o Estado chegou ou em que está, são tão velhas como Portugal, tala como vem dos antigos saber-se que quem enuncia e denuncia tais causas ou é afastado da sociedade ou atirado para o esquecimento por aqueles a quem uma verdadeira reforma do Estado não interessa. Como exemplo dos tempos que passam, basta citar o caso do BPN e da constelação de burla e dolo que andou à volta da instituição bancária, para nos certificarmos que uma reforma autêntica do Estado não interessa. Dizem os apressados e falsamente chamados reformistas ou que da designação se reclamam, que há gastos a mais na saúde, na educação, na segurança social, por aí fora, mas silenciam o astronómico buraco deixado pelo dinheiro que se sumiu e ninguém sabe ou, sabendo, ninguém diz onde pára sob as desculpas de se terem encontrado um ou dois bons bodes expiatórios. A justiça não é responsável mas leis desfasadas, leis omissas e leis deliberadamente redigidas no terreno do equívoco que competiriam ao Estado corrigir, aclarar ou introduzir, permitiram que muito do que devia ser punido exemplarmente acabasse por ser tolerado e aceite apenas não ser ilegal, cobrindo jogadas de dolo e enriquecimentos à tripa forra por via de negócios especulativos sob o manto diáfano das próprias instituições do Estado cuja reforma agora se diz urgente apenas para que os justos, os ingénuos e a generalidade dos cidadãos confiantes paguem os desvarios. Podem reformar por decretos punitivos para quem nunca cometeu crimes públicos e podem invocar causas internacionais e episódios da política doméstica insuflados pela conquista ou manutenção do poder, mas toda a gente vê e percebe que um Estado assim não tem emenda, até porque logo à partida os reformadores, num Estado a sério, deveriam ser logo identificados como prevaricadores ou seus aliados quer por via da omissão, quer por via de atos de exceção permissiva. Chegámos, sem dúvida, a um Estado que na sua grande parte é uma pirâmide de ociosos, de cargos inúteis, de mordomias distribuídas por prosélitos, de oficialidades impantes, de cortejos de burocratas que levam quinze dias para rubricar um papelinho, de palradores que falam horas e horas ou do que não percebem ou se percebem ninguém emtende porque não passam dos chavões e das linguagens cifradas que camuflam a estreiteza do espírito, a ausência de alma e, sobretudo, um egoísmo muito maior que a Ponta de Sagres a entrar no oceano dos cidadãos honestos e que logo às primeiras horas da democracia acreditaram e disseram em voz alta “Isto agora vai”. Não foi e assim não está a ir.

Carlos Albino
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    Flagrante exemplo papal: O papa abdicou porque sentiu chegada a sua hora de abdicar. Mas esse foi o pepa real, porque há por aí muitos papas de pacotilha que há muito deveria abdicar e não abdica e que em vez de sentirem chegar a sua hora, pelo contrário, dizem – “Estamos na hora e há que papar mais  enquanto é tempo!

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