Por todos os cantos se fala da “reforma do Estado”, associando-se a
tal pretendida reforma cortes orçamentais aqui e ali e não àquilo que deveras
merecia reforma urgente – a reforma das mentalidades, a reforma dos
procedimentos e usos da democracia, a reforma do centralismo estatal gerador
de uma cadeia infinda de mordomias e postos de ociosidade, a reforma dos
frágeis mecanismos do Estado que permitem a prática de verdadeiros crimes
públicos cujos efeitos são pagos dura e cruelmente por aqueles que os não
cometeram. As causas do estado a que o Estado chegou ou em que está, são tão
velhas como Portugal, tala como vem dos antigos saber-se que quem enuncia e
denuncia tais causas ou é afastado da sociedade ou atirado para o esquecimento
por aqueles a quem uma verdadeira reforma do Estado não interessa. Como exemplo
dos tempos que passam, basta citar o caso do BPN e da constelação de burla e
dolo que andou à volta da instituição bancária, para nos certificarmos que uma
reforma autêntica do Estado não interessa. Dizem os apressados e falsamente
chamados reformistas ou que da designação se reclamam, que há gastos a mais na
saúde, na educação, na segurança social, por aí fora, mas silenciam o
astronómico buraco deixado pelo dinheiro que se sumiu e ninguém sabe ou,
sabendo, ninguém diz onde pára sob as desculpas de se terem encontrado um ou
dois bons bodes expiatórios. A justiça não é responsável mas leis desfasadas,
leis omissas e leis deliberadamente redigidas no terreno do equívoco que
competiriam ao Estado corrigir, aclarar ou introduzir, permitiram que muito do
que devia ser punido exemplarmente acabasse por ser tolerado e aceite apenas
não ser ilegal, cobrindo jogadas de dolo e enriquecimentos à tripa forra por
via de negócios especulativos sob o manto diáfano das próprias instituições do
Estado cuja reforma agora se diz urgente apenas para que os justos, os ingénuos
e a generalidade dos cidadãos confiantes paguem os desvarios. Podem reformar
por decretos punitivos para quem nunca cometeu crimes públicos e podem invocar
causas internacionais e episódios da política doméstica insuflados pela
conquista ou manutenção do poder, mas toda a gente vê e percebe que um Estado
assim não tem emenda, até porque logo à partida os reformadores, num Estado a
sério, deveriam ser logo identificados como prevaricadores ou seus aliados quer
por via da omissão, quer por via de atos de exceção permissiva. Chegámos, sem
dúvida, a um Estado que na sua grande parte é uma pirâmide de ociosos, de
cargos inúteis, de mordomias distribuídas por prosélitos, de oficialidades
impantes, de cortejos de burocratas que levam quinze dias para rubricar um
papelinho, de palradores que falam horas e horas ou do que não percebem ou se
percebem ninguém emtende porque não passam dos chavões e das linguagens
cifradas que camuflam a estreiteza do espírito, a ausência de alma e,
sobretudo, um egoísmo muito maior que a Ponta de Sagres a entrar no oceano dos
cidadãos honestos e que logo às primeiras horas da democracia acreditaram e
disseram em voz alta “Isto agora vai”. Não foi e assim não está a ir.
Carlos Albino
Carlos Albino
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- Flagrante
exemplo papal: O papa abdicou porque sentiu
chegada a sua hora de abdicar. Mas esse foi o pepa real, porque há por aí muitos papas de pacotilha que há muito deveria abdicar e não abdica e que em vez de
sentirem chegar a sua hora, pelo contrário, dizem – “Estamos na hora e há que
papar mais enquanto é tempo!
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