Esta crise é uma oportunidade para os eleitores afirmarem a sua
responsabilidade na escolha dos poderes. É nas horas difíceis que se conhecem
os amigos, não é? Nas anteriores eleições autárquicas, em todas elas, os
eleitores bem tiveram mil desculpas para, em algum momento, justificarem que se
enganaram. Agora não será assim. Os eleitores, do mais letrado devido às
toneladas de livros que meteram na cabeça até ao perfeito e já vulgar
licenciado em telenovelas, futebol e Correio da Manhã, agora, se são enganados
é porque querem, ou porque têm interesse no engano, porque será difícil haver
distraídos. Não há desculpas para uma irresponsabilidade naqueles dois ou três
minutos que se gastam no voto. Nas anteriores eleições locais, é muito provável
que muitos, endossados por partidos ganhadores, tivessem sido eleitos apenas
porque granjearam a fama de bons organizadores de festas e peregrinações, ou
então porque beneficiaram de campanhas faustosas financiadas pela imobiliária
desde o porta-chaves até à avioneta com faixas nos ares para influenciar o
pacóvio, ou ainda porque, como se diz, estavam ou pareciam estar por dentro das
coisas, ou seja, inspiravam aquela confiança de quem se mexe bem em Lisboa a
benefício da terra. Claro que outros não. Outros, até independentemente dos
partidos, foram eleitos pela competência e saber, pela honestidade e probidade,
pelo bom coração e por serem gente de palavra. É por isso mesmo que se lamenta
que, por força da lei de limitação de mandatos, alguns bons autarcas tenham que
ficar fora da carruagem para serem rendidos não se sabe por quem. E não se sabe
porque, nestas eleições de horas difíceis, mais do que nunca, o reino é do
eleitor.
Daí que, em momento de grande renovação no poder local, os candidatos
tenham a obrigação de serem verdadeiros e que sobre o seu passado não cometam
omissões. Não basta a fotografia, o slogan, o discurso empolgado do comício a
mostrar proa e três ou quatro ideias para exacerbar o bairrismo num mega-jantar
de feijão com massa. É preciso que sejam verdadeiros no currículo profissional
e académico, que nada omitam sobre os interesses que eventualmente os movem, e,
além disso, que esclareçam as dúvidas se dúvidas existirem. Que digam por
completo onde trabalharam, por onde andaram, se avançaram passos por mérito,
que provas podem exibir para a experiência requerida. Sobretudo se são capazes
de serem amigos nas horas difíceis. A democracia fez-se para isso, não se fez
para aldrabões sorridentes. Daí a responsabilidade do eleitor porque a
democracia é o seu reino.
Carlos Albino
Carlos Albino
Flagrante
regabofe publicitário: Agora, as agências
funerárias para além de encherem as paredes de fotocópias com os mortos tal
como os circos fazem, já publicitam também as missas de 7.º dia, as missas do
30.º dia e até as missas do 1.º aniversário do morto como morto. Em vez dos
normais anúncios nos jornais é o regabofe e, pelo que se diz, bem pago para o
que é. Que Deus lhes perdoe a intromissão nas sacristias.
1 comentário:
Sem duvida que cada candidato a politico deveria ser transparente; admiro a democracia americana neste ponto.
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