Aqui temos, desta vez, um fantasmático Orçamento de Estado que, para um Algarve com o maior nível de desemprego do país, autarquias nas lonas, empresas fechadas, turismo com coração aqui mas carteira lá fora, insegurança até dizer basta, portagens coloniais, agricultura grandemente desfeita e pescas metidas a pique, para este Algarve, o Orçamento que se apresenta irá ser como que um exército de invasores a matar sem dó nem piedade e a pilhar tudo o que luza. Se no tempo das vacas gordas, o Algarve foi tratado com os pés, agora que nem é sequer já de vacas magras mas de esqueletos de vacas, o Algarve é atirado para o fundo do mapa ou mesmo dele retirado. A falha imperdoável do governo em honrar compromissos eleitorais e o seu fracasso em atingir metas traçadas somado ao fraco valor político e técnico de ministros-chave, gerou a desconfiança geral do país, e, aqui no canto do mapa, criou aos algarvios um sentimento de que estão indefesos e de que não há ninguém que os possa e queira defender. Há discursos que são já tardios e por isso ineficazes; e há prosápias que tentam justificar o não feito pelo prometido, e também por isso que não geram convicção em ninguém. E quanto ao Orçamento, de uns, umas quantas generalidades de circunstância, circunstância de oposição, e de outros, o silêncio, moita-carrasco, agachem-se soldados na trincheira enquanto houver tiros lá em cima.
Quanto aos nove deputados eleitos pelo
Algarve, claro que seria de esperar que tivessem tomado a posição de
votarem contra este Orçamento tal como ele se apresenta para a região e para os
algarvios. Ou então que tivessem dito que se revêem nele, que o apoiam e que,
enfim, receberam o mandato dos algarvios para tal fim. Tenham essa coragem, como
os deputados da Madeira sem rodeios a tiveram, ou como os dos Açores, à sua
maneira (que aqui entre nós é como que à maneira de Monchique ou de Querença,
ou seja, com toda a manha) já a expressaram telegraficamente. Pois eles, os
nove deputados, representam o quê e quem? Representam as direções partidárias
ou representam os eleitores algarvios?
Acaso esses nove deputados reuniram-se
com associações empresariais e sindicais, com instituições regionais, com
autarquias, enfim, com cidadãos em reuniões abertas, pelo menos nas 16 sedes
concelhias, e não apenas com sequazes, sejam estes seus discípulos de aldeia ou
seus mestres de escritório? Sendo tais nove deputados os legítimos
representantes dos algarvios, com que fundamento eles vão dar um voto favorável
ou contrário a este Orçamento de Estado que vai afetar as vidas de todos os
eleitores que representam e sem os quais eles não seriam o que são nem estariam
onde estão? Vão votar por essa tal disciplina partidária que tem matado as raízes da participação política, ou
vão votar em representação do Algarve, sem medo de que o denominador comum seja
o máximo? Ou têm medo, paradoxalmente, até de declararem que vão votar a favor
desta obra que, sem medo, aqui se deixa claro, é iníqua além de errada com
erros crassos? Digam.
(Os 9 deputados eleitos pelo Algarve, neste mês de outubro, no seu conjunto já deviam ter feito 27 contactos com o eleitorado algarvio nas três segundas-feiras que passaram, pois para isso têm as segundas livres. Mas fizerem esses 27 contactos ou fizeram 27 fins-de-semana prolongados?)
Carlos Albino
________________
Flagrante
afronta: O propósito de encerrar a
Fundação António Aleixo, é uma afronta. Seria interessante saber quais foram os
meninos de coro que fizeram o estudo em que o governo se baseou para decidir
infantilmente. É uma afronta para Loulé e para Quarteira e uma afronta dessas é
uma afronta ao Algarve.
Sem comentários:
Enviar um comentário