As manifestações de 15 de setembro foram uma surpresa para todos:
os que, desta ou daquela maneira, a promoveram não contavam com a grandeza da
adesão, e os destinatários do protesto (poder e partidos que o suportam) também
faziam outras contas. Assim foi em todo o país, não sendo o motivo de alegrias
mas de tristeza e repulsa pela falta de palavra política e pelo abuso político.
E no Algarve, que sofre o maior desemprego, sente a maior insegurança do país e
engole o maior desdém do governo por uma região, onde também se registou uma
das maiores provas públicas de sempre (em Faro, Portimão e Loulé) também há
conclusões a tirar, quer pelos promotores, quer pelos destinatários.
Quanto aos promotores, não só não podem nem devem ir além do que a
manifestação foi – inegavelmente um estrondoso protesto cívico –, como também
terão de concluir que os que encheram as ruas não foram atrás da folclorada, ou
seja, não foi uma manifestação de tachos e caçarolas, foi uma manifestação de
almas doídas e de protesto contra a política que rasga compromissos, oculta
entendimentos e e que em vez de entregue a gente madura e séria, parecerá
entregue a adolescentes tardios e a rapazolas. Portanto, os promotores não
podem pensar em cantar hinos do tipo de até à vitória final, porque a
esmagadora maioria dos que foram para as ruas não o fizeram para cantigas –
foram para a rua não como um meio mas como um fim.
Quanto aos destinatários, nenhum deles pode deixar-se tentar pela
ideia de que o alvo dos manifestantes foi o vizinho do lado, e não é só o poder
ou os partidos do poder que, numa prova de inteligência e sobrevivência
política, podem e devem tirar ilações, mas também os da oposição. As
manifestações excederam em muito as contas porque as pessoas não se sentem
capazmente representadas como as fizeram acreditar que estavam no atual sistema
político. As vozes que elegeram para as representar ou lhes soam a engasgadas,
ou engasgam-se por comprometidas, ou até mesmo correspondem a bocas que
politicamente nada valem ou valem menos que uma casca de amêndoa e nem para
espantalhos de pardais servem. Foi para estes mesmos destinatários – todos,
sejam os do poder esquecidos já do que prometeram quando eram oposição ou os da
oposição que julgam que toda a gente se esqueceu das fanfarronices de antes de
ontem – que a manifestação algarvia foi também um pequeno aviso e uma grande
advertência.
Pequeno aviso - o de que a sociedade não está cega, surda e muda.
Grande advertência - a de que haja uma mudança de práticas políticas para que
eventuais avisos seguintes não sejam maiores ou, para além de inorgânicos,
incontroláveis frutos do desespero que já é um grande pomar.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante
antevisão: Possivelmente as próximas
autárquicas não vão ser como até aqui – coisa controlada quase exclusivamente
pelos partidos. Assim por exemplo, um reconhecível ladrão que se atreva a
concorrer...
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