quinta-feira, 13 de setembro de 2012

SMS 479. As pessoas não aguentam

13 setembro 2011

Coincidiu que a democracia em Portugal se converteu em rotina precisamente quando a Europa entrou na nossa rotina. E assim foram sendo eleitos primeiros-ministros em função dessas duas rotinas coincidentes, cada qual eleito por dizer cobras e lagartos do anterior e quanto mais melhor mesmo que de forma perversa, explorando a esperança dos eleitores e quase por regra abusando da sua crença. Cada eleito, até este último inclusive, foi-se apresentando como salvador da pátria e do mundo, fama essa que também por regra foi durando seis meses, quando muito um ano, período esse durante o qual também foi tolerável que cada novo eleito atribuísse ao deposto o mal e a caramunha.

Só que os eleitores foram assistindo até à exaustão, a este jogo do empurra e das ambições, estado de exaustão em que a maioria dos votam hoje se encontra. O eleitor está exausto dos que prometem uma coisa e fazem outra completamente diferente ou que executam o que juraram nunca fazer; está exausto dos jogos para atingir apenas o poder e depois mantê-lo ao serviço de quem está por trás do reposteiro e que nunca soube estar noutro sítio; está exausto dos que ganham as pessoas com a cantiga de que primeiro estão as pessoas mas que rapidamente escolhem as pessoas para o tiro ao alvo; está exausto dos escândalos de toda a ordem e cujos autores por aí andam com caras de anjinhos como se nada tivesse acontecido; e já está tão exausto que não diz sequer que está exausto, ficando o eleitor pura e simplesmente calado, sem acreditar seja em quem for e sem esperança. E então o que resta? Resta um terreno propício para o exercício autoritário do poder, sem oposição que seja capaz de o fazer tremer, e rodeado de clientelas que sugam o Estado como a formiga-branca suga a madeira de cuja ação só nos damos conta quando estala a pintura. Ora, deixando-me de abstrações, tenho que dizer que, depois dos outros três que emigraram, assim se chegou a Pedro Passos Coelho que está a estalar a pintura, porque as pessoas estão exaustas e não aguentam mais.

Carlos Albino
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    Flagrante irresponsabilidade: A de decapitar direções próprias das escolas, deixando-as ao deus dará ou ao sabor dos dedos de quem recebeu o telecomando.

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