Coincidiu que a
democracia em Portugal se converteu em rotina precisamente quando a Europa
entrou na nossa rotina. E assim foram sendo eleitos primeiros-ministros em
função dessas duas rotinas coincidentes, cada qual eleito por dizer cobras e
lagartos do anterior e quanto mais melhor mesmo que de forma perversa,
explorando a esperança dos eleitores e quase por regra abusando da sua crença.
Cada eleito, até este último inclusive, foi-se apresentando como salvador da
pátria e do mundo, fama essa que também por regra foi durando seis meses,
quando muito um ano, período esse durante o qual também foi tolerável que cada
novo eleito atribuísse ao deposto o mal e a caramunha.
Só que os eleitores
foram assistindo até à exaustão, a este jogo do empurra e das ambições, estado de
exaustão em que a maioria dos votam hoje se encontra. O eleitor está exausto
dos que prometem uma coisa e fazem outra completamente diferente ou que
executam o que juraram nunca fazer; está exausto dos jogos para atingir apenas
o poder e depois mantê-lo ao serviço de quem está por trás do reposteiro e que
nunca soube estar noutro sítio; está exausto dos que ganham as pessoas com a
cantiga de que primeiro estão as pessoas mas que rapidamente escolhem as pessoas
para o tiro ao alvo; está exausto dos escândalos de toda a ordem e cujos
autores por aí andam com caras de anjinhos como se nada tivesse acontecido; e
já está tão exausto que não diz sequer que está exausto, ficando o eleitor pura
e simplesmente calado, sem acreditar seja em quem for e sem esperança. E então
o que resta? Resta um terreno propício para o exercício autoritário do poder,
sem oposição que seja capaz de o fazer tremer, e rodeado de clientelas que
sugam o Estado como a formiga-branca suga a madeira de cuja ação só nos damos
conta quando estala a pintura. Ora, deixando-me de abstrações, tenho que dizer
que, depois dos outros três que emigraram, assim se chegou a Pedro Passos
Coelho que está a estalar a pintura, porque as pessoas estão exaustas e não
aguentam mais.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante
irresponsabilidade: A de decapitar direções
próprias das escolas, deixando-as ao deus dará ou ao sabor dos dedos de quem
recebeu o telecomando.
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