quinta-feira, 6 de setembro de 2012

SMS 478. Quarteira perdoa


6 setembro 2012

Durante anos e anos, Quarteira foi usada como símbolo do desvario urbanístico e do caos imobiliário em todas as crónicas e croniquetas. Até o projeto turístico do Alqueva chegou a ser apresentado como um paraíso onde o erro de Quarteira não teria lugar. Gente que nunca pôs os pés em Quarteira ou que apenas por lá esteve de passagem há trinta anos, ainda hoje, quando lhes dá jeito meter na prosa um exemplo do inferno, lá recorrem ao símbolo que se lhes meteu na cabeça como um quisto. Ora, não é assim. Quarteira não é propriamente um milagre das rosas mas para quem conheceu a terá ainda como póvoa de pescadores, depois a viu crescer desnorteada, assistiu ao enorme esforço de requalificação e hoje a vê como uma cidade esplendorosa com o mar por vizinho à mão como poucas, só pode concluir que se não houve milagre, parece. Na verdade, contrariamente ao que diz o poeta, ali em Quarteira Deus quis outra coisa, o Homem corrigiu e a obra nasceu. O longo passeio público marítimo, o conhecido calçadão, é a qualquer hora dádiva da natureza e milagre de convivência humana; nas avenidas que deram novo traçado à terra respira-se paz; o que era alto ficou disfarçado e o que sempre foi baixo ficou integrado; desapareceram os apartheids, o apartheid dos ricos a poente e os apartheids dos pobres e remediados , de tal forma que se a justiça social não fosse perturbada pelos diabos que Deus quis com o rei na barriga, ali o Homem parece sempre sonhar e a Obra sempre a nascer. É uma cidade esplendorosa, símbolo de um Portugal corrigido pela determinação, generosidade e visão de poderes eleitos.   É uma terra onde se pode ir e estar. Há poucos exemplos de milagres como o de Quarteira, apetecendo dizer à cidade: “Quarteira perdoa a quem não te viu como estás e que fala de ti não sabendo como és. Perdoa.”

Carlos Albino
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Flagrante geografia política: Para este governo, o Algarve não deve já constar no mapa do País.




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