Devia o Algarve ter, nesta hora que passa, um canal de televisão
adequado aos interesses regionais, pelo menos uma estação de rádio de
referência obrigatória, jornais que espelhassem a região de forma que tanto o
poder como as oposições sentissem e de vez em quando até temessem, e, claro,
devia ter também intervenção nas redes sociais e quejandos, que desse vida e
debate à política, à cultura, às atividades económicas, por aí fora, e desse
conta de uma sociedade que não está dormente. Mas o panorama é como o de uma
terra que não pertence a um país nem quer ou nem pode ter voz própria. As
televisões, a pública e as privadas, apenas se lembram do Algarve ou por esmola
ou por desgraça, e a ideia de um canal regional foi sonho gorado de há muitos
anos; as rádios locais que se aguentam são gira-discos; os jornais nacionais
que têm o seu mercado, uns só registam o crime e o último desastre na 125 e
quanto maior melhor, outros, enfim, lá vão publicando uns faits divers ou
notícia tardia de algum clamor; os jornais da terra que de modo geral fazem das
tripas coração para se manterem com os senhores do turismo a fazerem-lhe figas,
ou se entretêm em cotoveladas desnecessárias e ridículas, são acríticos e
fortemente dependentes da produção noticiosa cozinhada lá em cima ou dos
press-releases das conveniências de cá em baixo, pois até as agências
funerárias anunciam os mortos privativos do negócio por fotocópias coladas nas
paredes e, pelos vistos, isentas de taxas como na selva; e quanto às redes
sociais também na generalidade a atividade não passa dos namoros sem namorado e
da fotografia do umbigo, pelo que algumas coisas sérias e até bem feitas, se
perdem no espaço e apenas uma ou duas dúzias as seguem, sem impacto social,
portanto. E para mudar este panorama não há milagres nem decretos nem posturas
municipais – a coisa tem que partir da terra e só pode partir da terra se houver
interesse e empenhamento da sociedade. Sem esse interesse e sem esse
empenhamento, batatas.
Na hora que passa, o Algarve devia ter voz própria, uma vozinha que
o País sentisse mesmo que ao de leve. Ora, uma voz própria não cai do céu, nem
alguma vez ela será possível com cegos, surdos e mudos que tinham a obrigação e
condições de ver, de ouvir e de falar. E fico por aqui.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante património: A Sé de Silves coberta de telha vermelha é o mesmo que um bispo lá celebrar missa de Natal com equipamento de ciclista do Tavira.
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