Dentro daquela lógica
segundo a qual tudo o que não é proibido é lícito, pelo que com toda a
esperteza haverá que aproveitar os buracos, as lacunas e os alçapões da lei,
algumas universidades e institutos superiores sobretudo privados que nos
públicos ainda há um certo pudor mas pudor apenas, cá vai disto, fizeram
fornadas de licenciados nisto e naquilo, alguns com o canudo à velocidade da
luz pelo expediente das equivalências, outros pelo facilitismo de provas,
outros ainda, certamente por genialidade hereditária, porque nasceram
ensinados. Quanto ao estudo, nada; quanto à investigação, zero; e quanto ao que
mais importa que é o quadro mental que só uma universidade pode e deve dar, uma
nulidade. Naturalmente que os ditosos licenciados do pé para a mão ficaram
muito felizes no dia da bênção das pastas, ufanos a gabarolas se começaram a
autojustificar com novos cartões de visita ostentando o título académico em
brilhante relevo, mas a sociedade ficou mais pobre com cada um de tais doutores
da mula ruça.
E tinha que dar
nisto. Concederam-se alvarás para o ensino superior como se os critérios
fossem quase os mesmos para quem abre uma mercearia – não vendem feijões,
vendem diplomas. Em alguns dessas escolas entra o pior que o ensino secundário
debita e que não tem entrada em mais nenhum lado. Os professores ditos
titulares são low cost e assinam de
cruz, tudo o mais possível dentro da tal lei cega para o que à evidência é
ilícito. E os chefes de tudo isto, no seu conjunto, mais não formam que uma
tribo nómada que tal como a maior parte das tribos nómadas, vivem da apanha da
alfarroba que não lhes pertence ou da venda de berbigão e amêijoa em época de
apanha proibida, com bastantes autarquias, de norte a sul, a curvarem-se
respeitosamente perante tal saber e até a canalizarem orçamento apreciável em
nome do chamado prestígio local que foi o que esteve na base do erro.
É claro que, com os
anos, a falange dos licenciados por equivalências e facilitismo acabaria por
formar uma corporação de interesses e é por isso que, sempre que estala
algum caso necessariamente badalado, os da corporação ficam mais caladinhos que
os ratos, porque, lá no fundo, sabem muito bem que o seu cartão de visitas tem
um erro e que a bênção de pastas foi um regabofe. Um enorme erro que é uma
afronta para universidades a sério e para quem a sério por elas passou com a
consciência de que uma sociedade não vai a lado nenhum com ilícitos, mesmo que
os ilícitos sejam paulatinamente esquecidos pela lei, porque se por ela forem
estimulados, que a Sicília nos desculpe, mas essa sociedade iria dar no que a
Sicília é emblema.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante bom momento: O da exposição de pintura de Graça Morais, no Convento de Santo António (Loulé).
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