Para as eleições autárquicas, o quadro está quase desenhado: a
limitação de mandatos vingou e resta agora saber se haverá listas únicas, ou se,
como até aqui, listas separadas para câmaras e assembleias. Quanto à limitação
de mandatos, se são razoavelmente compreensíveis as invocadas razões de
prevenção ética, já não se compreende tão bem que essa limitação seja em função
do território e não da pessoa. Um presidente de câmara deve ser, pelo senso
comum, um conceituado da terra, sendo eleito pelo “conceito” que os eleitores
locais têm dele, pelo que nem sempre é a bandeira do partido que conta,
contando mais o perfil moral e de competência. Se um partido, grande ou
pequeno, tem a sorte de contar com um candidato conceituado rodeado de um grupo
também conceituado, é meio caminho andado, e a propaganda até será coisa
secundária como para os sabonetes em que vale mais o cheiro que a eficácia. Se
o candidato for conceituado, a propaganda não passa de festa dispendiosa e
desnecessária na sua parte de feira de enganos. O que já não compreende é que
um conceituado numa terra, impedido de se recandidatar por força da tal
prevenção ética, possa continuar ou fazer carreira na terra ao lado, sabendo-se
que os grupos de pressão que eventualmente contaminem a ética política ou que
esse pessoal que não olha a meios para atingir fins, não está confinado aos
territórios concelhios – tanto podem comprar a alma de um político na terra que
naturalmente o elegeu com a podem comprar na terra contígua, onde, por vezes,
até mais lhes convirá comprar a confiança de quem decide. E é assim que a lei
sobre a limitação de mandatos, arrancando de uma boa intenção, pode vir a
produzir diversos efeitos perversos. De um de tais efeitos perversos já não se
livra – o de provocar uma nova figura de presidentes de câmara, a dos
presidentes itinerantes ou saltitões. Para quê ou porquê a itinerância e o
salto de uma terra para a outra? Apenas porque a lista de mordomias do partido
não faculta um salto maior, seja para deputado, presidente disto ou diretor
regional daquilo? Ou será que um indubitável conceituado numa terra se julga
salvador do mundo e que, não podendo salvar o mundo todo, tendo salvado já uma
terra - a sua terra -, se sente impelido à cruzada de salvar a terra contígua, fiado
em que o santo vindo de fora é tido sempre como um salvador que faz milagres?
Ou, mais elementar do que isso mas sem dúvida mais pernicioso, caso a
presidência de câmara, como tudo leva a crer, se converter numa carreira de
comissões eletivas de serviço em que o pudor, como nos juízes, obriga à
conveniência de mudar de comarca, não quererá isso dizer que, afinal, o
conceituado numa terra de origem mais não é mais do que capataz em potência na
terra de arribação? Dos capatazes, fora da construção civil, não se tem bom
conceito.
Sobre as listas, únicas ou separadas, fica para a semana.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante advertência: Na hora de escolha dos nomes, cuidado com Isaltinos em potência, com Jardins à escala, e com os presunçosos da inocência.
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