Enfim, foi publicado o Índice Global de Desenvolvimento Regional em
que o Algarve surge com um retrato negro. Os dados são de 2009 e, pelo que se
sente à volta, a evolução foi certamente para pior. Uma região cujo
desenvolvimento foi deixado ao acaso, entre o oportunismo desmedido e a
improvisação enganosa, tinha que resultar nisso. O Estado não cumpriu o que
devia ter cumprido – antes pelo contrário, tolerou que as formigas brancas se
multiplicassem nos forros escondidos da burocracia, nem permitiu que a região
se auto-responsabilizasse ou iniciasse sequer um aprendizado de escrutínio. E
foi assim que muitos reinaram que se fartaram, eclipsando-se quando as coisas
começaram a dar para o torto, deixando a região na penúria com as câmaras a
fazerem contas com o impossível, com o índice de desemprego mais elevado do
país, sem pescas, sem agricultura que se diga como tal, e totalmente dependente
de um turismo a funcionar como lotaria ou jogo de sorte, cada vez mais a perder
competitividade e que, operando na região, não tem rosto na região e muito
menos carteira e coração. E, pior que tudo, tem estado a região desprovida de
instituições que a poderiam orientar para a maioridade e, uma ou outra que tem
não passa de verbo-de-encher, fazendo das tripas coração para sobrevivência. O
Estado, que não permitiu até hoje uma réstia de regionalização, é por atos e
omissões o primeiro grande responsável pela situação a que o Algarve chegou e
talvez seja por isso que os rostos visíveis do Estado também fogem disto, não
aguentando enfrentar os que tendo nascido ou vindo para aqui, vivendo e
trabalhando aqui, sofrem as consequências dos erros e dos abusos sem nada terem
podido fazer para os evitar.
Os dados do INE não surpreendem em nada quem tem estado atento à
forma como a região tem sido tratada e como a si própria se tem tratado. É
preciso ter andado ou andar muito distraído para esperar que apenas uns números
de 2009, já largamente ultrapassados, lançassem alertas sobre a competitividade
da região, sobre o panorama da coesão e sobre a qualidade ambiental. Avisos não
faltaram, mas ou foram recebidos com desdém por quem os devia ter levado em
conta, ou foram atirados para o cesto dos papéis por quem devia representar a
região pela força do mandato e não em função de mera carreira pessoal. Os visados não gostam, mas é assim.
Carlos Albino
Carlos Albino
________________
Flagrante prova: As portagens na Via do Infante tiveram, até hoje, uma grande vantagem – a de tornar evidente a quantidade e qualidade dos vira-casacas.
Sem comentários:
Enviar um comentário