quinta-feira, 19 de abril de 2012

SMS 458. Retrato negro que não surpreende

19 abril 2012

Enfim, foi publicado o Índice Global de Desenvolvimento Regional em que o Algarve surge com um retrato negro. Os dados são de 2009 e, pelo que se sente à volta, a evolução foi certamente para pior. Uma região cujo desenvolvimento foi deixado ao acaso, entre o oportunismo desmedido e a improvisação enganosa, tinha que resultar nisso. O Estado não cumpriu o que devia ter cumprido – antes pelo contrário, tolerou que as formigas brancas se multiplicassem nos forros escondidos da burocracia, nem permitiu que a região se auto-responsabilizasse ou iniciasse sequer um aprendizado de escrutínio. E foi assim que muitos reinaram que se fartaram, eclipsando-se quando as coisas começaram a dar para o torto, deixando a região na penúria com as câmaras a fazerem contas com o impossível, com o índice de desemprego mais elevado do país, sem pescas, sem agricultura que se diga como tal, e totalmente dependente de um turismo a funcionar como lotaria ou jogo de sorte, cada vez mais a perder competitividade e que, operando na região, não tem rosto na região e muito menos carteira e coração. E, pior que tudo, tem estado a região desprovida de instituições que a poderiam orientar para a maioridade e, uma ou outra que tem não passa de verbo-de-encher, fazendo das tripas coração para sobrevivência. O Estado, que não permitiu até hoje uma réstia de regionalização, é por atos e omissões o primeiro grande responsável pela situação a que o Algarve chegou e talvez seja por isso que os rostos visíveis do Estado também fogem disto, não aguentando enfrentar os que tendo nascido ou vindo para aqui, vivendo e trabalhando aqui, sofrem as consequências dos erros e dos abusos sem nada terem podido fazer para os evitar.

Os dados do INE não surpreendem em nada quem tem estado atento à forma como a região tem sido tratada e como a si própria se tem tratado. É preciso ter andado ou andar muito distraído para esperar que apenas uns números de 2009, já largamente ultrapassados, lançassem alertas sobre a competitividade da região, sobre o panorama da coesão e sobre a qualidade ambiental. Avisos não faltaram, mas ou foram recebidos com desdém por quem os devia ter levado em conta, ou foram atirados para o cesto dos papéis por quem devia representar a região pela força do mandato e não em função de mera carreira pessoal.  Os visados não gostam, mas é assim.

Carlos Albino
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Flagrante prova: As portagens na Via do Infante tiveram, até hoje, uma grande vantagem – a de tornar evidente a quantidade e qualidade dos vira-casacas.

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