quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

SMS 450. Senhora Merkel, venha cá!

16 fevereiro 2012

Pelos maus motivos conhecidos, Alberto João Jardim antecipou-se-nos mas não é lá por isso que, pelos bons motivos, devamos pôr de lado o convite à chanceler alemã para visitar o Algarve e ver com os seus próprios olhos como somos exemplo a seguir na aplicação dos generosos dinheiros europeus. Jardim convidou Ângela Merkel para verificar que na Madeira o regabofe não foi assim tanto como dizem. Quanto a nós, nada disso, antes pelo contrário o convite destina-se a que a chanceler certifique o bom exemplo que o estóico e civilizado Algarve é. Senão vejamos, com dois exemplos.

Construiu-se, em grande parte com dinheiros da Europa a fundo perdido, a única via rápida da região que era para ser de três faixas mas foi alargada para quatro para ter a fama de auto-estrada, mas apesar disso foram introduzidas portagens para lucro do Estado e intermediários no que é verdadeiro mealheiro. Não é este um bom exemplo de boa aplicação de fundos estruturais? Além disso, ao longo de anos e anos, foi prometida a chamada requalificação do ziguezague do século XIX que, no século XX recebeu primeiro a designação de Estrada Nacional 125 que de nacional nada tinha, e já no último quartel haveria de se chamar “estrada da morte”, pois em cada curva e em cada lomba a meio de cada pequena reta com casas de habitação e de comércio a cada lado, lá está a memória de incontáveis mortos ceifados no melhor da vida, mesmo com a célebre tolerância zero na circulação a 50 Kms à hora e correspondente caça à multa, porque aquilo é só caçar. Houve, na verdade, aqui e além uns arremedos de requalificação que mais não são do que muros de Berlim separando gentes e haveres, e, exemplo do horror, emparedando por exemplo o Centro Cultural de São Lourenço ditando a extinção deste, como cedo se tornou óbvio. Não se chama a isto uma boa aplicação dos fundos estruturais? Senhora Merkel, venha cá ver os bons exemplos de um Algarve nada perdulário.

Mas há outro exemplo. Pela engenharia estatística, tirada a média dos apreciáveis lucros do turismo e afins (em grande parte com código postal em paraísos fiscais) e dos magros lucros dos pobres algarvios, concluiu-se que a região é rica a ponto de perder acesso a fundos europeus destinados a áreas deprimidas. A verdade é que os algarvios continuam deprimidos mas os que para isso contribuíram parece que não. Mas com cara alegre, elegendo deputados que quando deputam não delegam e quando delegam não deputam, com muita ginástica de rins dos municípios (senhora Merkel, não se esqueça de ir a Alcoutim, por exemplo), e com santa paciência face aos emissários do centralismo regra geral opulento e sobranceiro no uso da sua arma predileta que é a burocracia, o Algarve suporta essa fama de rico, sendo pobre, assimétrico, desprovido e para o qual o Orçamento de Estado é sistematicamente mau padrasto, sem que, apesar de tudo isso, o Algarve reclame da Europa o que a Europa lhe deveria dar sem favores mas por retorno (a lista dos que aqui bebem é conhecida).

Senhora Merkel, venha cá.

Carlos Albino
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Flagrante errata: E logo com a Universidade. No apontamento da semana passada deixou-se sugerido que a Universidade do Algarve deveria ter avaliado o programa Allgarve sem esperar pela encomenda mas por motu próprio.  Por razões alheias, em vez de motu saiu moto, gralha suficiente para se perder graduação honoris causa, a avaliar pelo telefonema de reparo. Nada de gralhas com a universidade.

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