Consta que algumas câmaras municipais e juntas de freguesia estão a
cancelar assinaturas dos poucos jornais locais e regionais que o Algarve ainda
tem sem barriga de aluguer, alegando a crise. Somados os locais aos regionais, quando
muito serão uns cinco ou seis jornais para cada câmara e na generalidade um ou
dois jornais para cada junta, custando isso uns 120 euros anuais no máximo. É
claro que os jornais estão a ser postos de lado pelos autarcas não é pelos 120
euros para 365 dias, nem porque a prosa geralmente laudatória que se lhes
destina os fere na cultivada virtude da humildade, e muito menos porque a
crítica feroz e impiedosa dos jornais algarvios perante questões esquisitas
tenha feito cair meia centena de juntas e dúzia e meia de câmaras a ponto de se
justificar tal corretivo. A coisa é mais simples – o pessoal decisor das
câmaras e juntas que corta nos jornais, corta porque não lê jornais, e caso um
ou outro jornal publique alguma coisa que o toque, lêem-nos pela fotocópia, ou
não seja verdade que a fotocópia se tornou na mãe de toda a política portuguesa,
incluindo a política local que é a fotocópia da nacional. Mas a juntar aos tais
cortes de assinaturas por câmaras e juntas, chegam notícias de calotes de
algumas bibliotecas também municipais pelos jornais e revistas que adquirem
para as salas de leitura forçando jornaleiros a andarem de Anás para Caifás,
com cada Anás a enxotar a água do capote para outro Caifás. As verbas também
não são por aí além, mas não é de admirar que, mais dia menos dia, os jornais
sejam retirados das bibliotecas devido à crise, ou não seja verdade que a crise
se tornou na desculpa useira e pretexto vezeiro para tapar erros de gestão,
para dissimular analfabetismos reinantes e para salvar incompetências atrozes. Quando
um presidente de câmara invoca que não tem 40 euros para pagar uma assinatura
de jornal que diz diretamente respeito à terra, e quando um diretor de
biblioteca, mês após mês, levanta jornais e revistas sem pagar dizendo que não
sabe quem pode e deve pagar, isso tem um nome que é muito feio e que por acaso
foi das primeiras palavras que a estrangeirada da troika aprendeu de português.
Que palavra? Mesquinhez. Até dá vergonha pôr a palavra em título.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante encomenda: Então foi preciso encomendar um estudo para a Universidade do Algarve avaliar o tal programa Allgarve? Isso não era coisa para uma universidade avaliar por motu proprio?
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