quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

SMS 397. Do Vascão para cima


27 janeiro 2011

Há evidentemente uma ou outra boa nova, como, por exemplo, na área da indústria de pescas, em Olhão. Mas é caso isolado, infelizmente. O turismo vai como se sabe, com o mercado temporário de emprego a fazer, aqui e ali, o inimaginável, sem que os trabalhadores possam dizer ui ou mexer uma palha. A agricultura, depois das ondas de pilhagens a vivendas, sofre agora os assaltos – roubam tudo nas hortas, desde as culturas aos fios de cobre. O comércio aguarda o verão porque a esperança é a última morrer. Os serviços gerem dívidas na maior parte dos casos. Os bancos hipotecam, enquanto outros, fazendo contas de tudo isto é passageiro, vão apostando na imobiliária enquanto também os bancos não hipotecam – na verdade, há por aí betão que ninguém acreditaria que se vendesse e está todo vendido, embora também haja cada vez mais casas fechadas ou à espera de um desejadissimo aluguer para férias. Algumas câmaras vão dando emprego e ainda bem, os burocratas locais rezam a Deus para que a crise não os surpreenda e lá vão cumprindo as suas rotinas, agora, com mais algum temor no atendimento, não pelas eleições igualmente locais que possam afetar o chefe, pois as eleições no calendário mental estão ainda longe, mas porque nunca se sabe se a pouca sorte dos outros lhes bate à porta. Já se viu que, quando não há dinheiro, batatas. Nas cidades e vilas, cada um mete-se nas suas casas à espera do outro dia, passando o tempo com a ajuda da telenovela, da notícia do crime que cada um também segue com imensa emoção quando as coisas acontecem longe ou o mais longe possível. A vida associativa está confinada a umas bolsas de entusiastas e a parte mais ativa está associada a almoços ou jantares de confraternização. Os líderes políticos da região, não apenas pelo episódio lastimável das portagens em que não souberam impor-se a vários níveis, vão fazendo as suas declarações, despachando os requerimentos que podem, dando entrevistas e animando os militantes, mas já devem ter percebido que o ambiente está morno e sem entusiasmo porque também não há crença, não há golpe de asa e não há discurso galvanizador, por um lado porque programas e projetos que ainda há pouco tempo subiam no pau da bandeira, agora caducaram no prazo de validade como os iogurtes, e por outro lado, não se podem iludir a si próprios sobre o poder que está lá em cima, ou seja do Tejo para cima, ou para maior rigor, do Vascão para cima. A culpa não será totalmente deles mas a responsabilidade é.

Carlos Albino

    Flagrantes conclusões: Sim, será despropositado misturar, mas também não se pode separar. Para quê meter a cabeça na areia?

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