16 dezembro 2010
Os estragos deste bicho estão à vista, o leitor sabe do que se trata. Por mais antiga que seja a árvore, por mais robusta que pareça e por mais amores que tenha coberto no jardim público ou confrontos que tenha testemunhado sem olhos na avenida da terra, aquele animalzinho ataca, mina num mundo que ele constrói no meio de um barulho arrepiante para nós, os humanos, mas que para ele é a sua música clássica.
Por regra, esse bicho adota a designação de dinâmico, veste como qualquer pessoa que se preze, percebe das causas e dos efeitos da crise pátria, entra nos cafés quase sempre sorridente com bom dia para a direita e boa tarde para a esquerda, enfim, é um senhor, mesmo que em criança, mexido como sempre foi, sentisse o tom pejorativo do que o pai ou mãe, vendo-o desmedidamente irrequieto, lhe dizia – “Moço! Até pareces um escaravelho!”.
Quando a idade lhe dá carapaça retirando-lhe o líquido viscoso de larva, é então que ele se dedica à sua principal missão e que foi sempre a mesma: roer o tronco onde se encontra alojado.
Se está num partido, rói para ocupar o espaço dos outros e sugar a melhor seiva porque a estratégia do escaravelho não é o bem comum e muito menos o interesse público. A sua estratégia é alimentar-se o melhor possível e saltar sobre qualquer outro escaravelho que lhe apareça, julgando-se nisso genial e imensamente protegido. Pois se rouba, mesmo que o assalto seja contra o colega do tronco, ele sabe que isso fica no segredo da palmeira, tão certo que está que nenhum veneno lhe interrompe a existência, seja esse veneno administrado pela calda da justiça ou pela desinfestação do voto. Contra ele, o escaravelho sabe que todos os esforços são inúteis, além de dispendiosos e que ninguém o pode enxotar.
Mas, desmiolado como esse bicho é, ele não se apercebe que as ramadas da palmeira secam, a árvore morre e com ela também fina os seus dias de escaravelho e a sua missão de roer. Tanto barulho no tronco para nada.
Carlos Albino
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- Flagrante post it: Agora que os partidos, mais ou menos, já se preparam para abrir caminho aos candidatos que vão ocupar o lugar dos presidentes de câmara em último mandato legal, será aconselhável que escolham gente com mãos limpas e sem passado confuso . O povo pode não ter ou perder a memória mas tem lembrança.
1 comentário:
Upa!
Parece-me reconhecer neste texto, uma, ou duas(?) personalidades minhas conhecidas!
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