Sim, por entre tantas dívidas, e depois de tantas receitas, o que mais choca é a dívida de diálogo, a dívida de explicação, a dívida de consideração. Dívida política do eleito para com o eleitor, dívida cívica do nomeado para com o administrado, dívida anímica do que vive dos dinheiros públicos para com o contribuinte, dívida usurária do poder central para com cada um dos deveres regionais ou locais, como se queira. Nenhuma destas dívidas se justifica com a dívida pública. E isto que se diz não se aplica apenas às portagens – aplica-se à segurança, à saúde, ao ensino, à política ambiental, à cultura, à defesa das atividades económicas da região, por aí afora, com a sobranceria a servir de pesponto e alinhavo em muita casaca ou vestido de carapau de corrida que se intrometeu nesta democracia que devia ser estimada e não é.
É chocante que perante os argumentos da região quanto à Via do Infante e quanto à estrada 125, o ministro das Obras Públicas não tenha vindo ao Algarve assumir, explicar, ouvir, debater, rebater. Choca que um eleito para ser responsável e para representar, tenha chegado a firmar em comunicado para efeitos de Lisboa, que as portagens são apenas contestadas “por uns quantos insatisfeitos”. Choca que face à situação dramática da segurança, o ministro da Administração Interna só venha ao Algarve para inaugurar uma pen drive, cumprimentar a governadora civil e meia dúzia de graduados, pois quanto ao resto cada um que se governe e que as forças de segurança, sem meios, sem recursos e sem ancoragem, se amanhem no balcão de atendimento a que cada vez menos as vítimas recorrem. E por aí fora.
A metáfora que ocorre para descrever este dia a dia de sobranceria que mina a democracia julgando-se eterna e auto-suficiente, tem muito a ver com o escaravelho da palmeira ou com a formiga branca, esses bichos que, depois da distração vital de comerem tudo, acabam vítimas de si próprios. Fica para a semana o apontamento precisamente intitulado “Os Escaravelhos da Palmeira”...
Carlos Albino
- Flagrante imaginação: Essa, a do convite ao príncipe britânico para uma lua-de-mel no Algarve. Ao menos houvesse a certeza prévia da aceitação, como mandam as regras para quem não quer fazer papel de ingénuo. É que um príncipe daqueles fazer uma lua de mel com tais efeitos não é propriamente o mesmo que entrar num concurso da TVI...
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