quinta-feira, 22 de abril de 2010

SMS 359. A liberdade


22 abril 2010

E mais uma vez chegamos a um momento do calendário em que parece ser ritual obrigatório dar vivas à liberdade. Na verdade, a conclusão a que podemos chegar após estes anos todos de vivas, não é alarmante para o único modo de jornalismo que vale a pena – o independente. Lá por isso, não devemos adormecer ou viver distraídos. O país tem estado imune a autoritarismos ou a cerceamentos mais ou menos explícitos de liberdade de informação e opinião, não só reagindo ao mínimo sinal ou indício disso como também recriminando faltas de responsabilidade ou manipulações abusivas – está provado que todos queremos ser livres e que gostamos muito de ser livres, mas importa saber se isso basta, ou se basta sentir isso apenas em abstrato.

No que particularmente diz respeito ao Algarve, que não tem televisão própria, onde se lê pouco (muito pouco), e com as rádios a subsistirem por artes mágicas, há liberdade, como diria La Palisse, porque também não há motivos para não deixar de haver – e se damos vivas por isto, damos vivas por pouco. Sem televisão regional, sem jornais suportados por alguns bons (mas bons) milhares de leitores e sem rádios de referência no plano informativo, em suma com o mundo comunicacional a revelar uma forte dependência da única agência noticiosa que opera e da papelada oficial, podemos dar vivas à liberdade, todos os vivas, mesmo que distraídos não demos conta que pouca imprensa pode fiscalizar e pouca rádio pode escrutinar, não havendo mais nada, à exceção dos sites e blogues que obviamente podem desenvolver atividade próxima ou parente da profissional mas não se lhes exigindo isso. É nestas circunstâncias que não deixa de causar arrepios quando se ouve responsáveis regionais, ao mesmo tempo que dão vivas, a declarar publicamente que o papel da imprensa não é o de fiscalizar mas apenas o de noticiar, como se a pouca ou quase nula fiscalização incomodasse. E causa arrepios porque tais responsáveis deveriam sim é sublinhar o enorme e escandaloso défice informativo e comunicacional na região, reclamando medidas e programas para o debelar. Se o tivessem feito já, então sim, ninguém duvidaria dos seus vivas à liberdade.

Tais responsáveis deveriam incomodar-se com o facto da liberdade de informação e de opinião significar pouco mais que uma dúzia de pequenos e débeis jornais resistentes a barrigas de aluguer, e que outros tantos postos de rádio feitos muitas vezes com heroicidade igualmente resistente a rebuçados de falsa economia, reproduzam os éditos emanados dos gabinetes, gabinetes estes que também dão vivas à liberdade, e não se saindo daqui porque as agendas municipais fazem o resto.

Carlos Albino

    Flagrante insegurança: Regressa a onda de assaltos a pessoas e residências, sobretudo nas zonas rurais. Há qualquer coisa que está a falhar e os bandidos sabem disso.

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